
Carlos Sebastião e José Prata são dois dos cinco filhos de Grande Otelo. Mais conhecidos como Otelinho e Pratinha, respectivamente, os irmãos estão cheios de planos de shows e outras atividades culturais para divulgar a arte e o talento desse brasileiro que atuou por várias décadas no cinema e teatro.
"O nome do meu pai poderia ser trabalho. Ele não parava em casa, que na verdade era regida pela nossa mãe. Aos 16 anos de idade comecei a sair com ele e ficar mais próximo. Além de trabalhar muito no teatro, cinema e shows, tinha um lado político bem forte. Foi diretor do Sindicato dos Artistas, teve ligação com a Casa dos Artistas, em Jacarepaguá. O lado político ficava mais forte ainda, quando subia no palco, porque era um ícone de levar um certo grau de mensagem", diz Otelinho.
"Ele era realmente um trabalhador nas artes", comenta Pratinha. É difícil até enumerar quantos trabalhos Grande Otelo fez, tamanha quantidade, entre papeis principais e participações especiais. Atuou no teatro, cinema e televisão, intensamente. Fez shows nas noites do Rio. Entre os seus trabalhos inesquecíveis está o filme Macunaíma, elogiado por 10, entre 10 críticos.
Filhos da arte
Otelo deixou cinco filhos. A mais velha é a Jaciara, veio da sua primeira união. Depois, do casamento com Olga de Souza Prata, vieram mais quatro. Carlos Sebastião ou Otelinho é o mais velho, depois o Mário Luiz, José Antônio ou pratinha como é conhecido e por último o Osvaldo Aranha, esse já falecido.
"De todos os filhos somente eu e o Pratinha optamos pela vida artística, e já desenvolvemos trabalhos na televisão, teatro e cinema, inclusive ao lado do nosso pai. O Pratinha atuou em várias peças e contracenou com ele na televisão. Eu já atuei algumas vezes, entre elas os filmes: Os Marginais e Massacre ao Supermercado, mas a maior parte do tempo trabalhei atrás das câmeras, nos bastidores", relata Otelinho.
Meu pai era um ícone e
tinha seu lado político bem forte
Atualmente os irmãos estão ensaiando uma comédia que tem estréia prevista para este mês. "Há muito temos um projeto de viajar pelo interior, com exposições e vídeos de Grande Otelo. Coisas do teatro de revista, como Boneca de Pinche e monólogos que realizou. Essa peça, que estamos ensaiando, pode ser o gancho para isso, apesar de não ter nada a ver com Grande Otelo", argumenta Pratinha.
Os irmãos, alguns anos após o falecimento de Grande Otelo, que completará 10 anos esse ano, começaram a ter uma idéia de montar uma espécie de casa de cultura Grande Otelo. Na ocasião, o Ministro da Cultura prometeu montar um memorial Grande Otelo, na Praça Mauá, e, junto a este, um centro cultural com o mesmo nome. No entanto, essa promessa foi esquecida.
"Se a casa nascesse hoje, gostaria que viesse em forma de centro cultural com exposições permanentes e salas de vídeo, para que as pessoas continuem assistindo aos filmes de que ele participou. Hoje em dia já existe uma geração que pergunta quem foi Grande Otelo, e isso não deveria acontecer", fala Otelinho.
Os filhos de Grande Otelo lembram que atualmente estão sendo criadas lonas culturais e espaços alternativos variados, provando que é fácil levar cultura ao povo. "Talvez isso não chegue ao conhecimento dos empresários que podem muito bem apoiar a cultura, em forma de patrocínio. Quem lê sobre Grande Otelo logo se interessa para saber mais sobre ele, e não existe um local que faça esse trabalho. Creio que a criação de centros culturais deve existir para astros brasileiros como Costinha, Golias, Ankito, Oscarito e outros", defende Pratinha.
Otelo nasceu na cidade mineira de Uberlândia, que na época se chamava Uberabinha. Aos oito anos fugiu com um circo que passava por lá e foi parar em São Paulo. "Grande Otelo nasceu e viveu, até os oito anos de idade, como um menino pobre qualquer. Mas, aos fugir com um circo, veio para o Rio de Janeiro, onde encontrou o estrelato" conta o filho mais velho.
Pretendemos viajar pelo Brasil com o teatro,
exposição e vídeos,
levando para o interior
do país um pouco de Grande Otelo
O artista morreu em Paris, onde iria receber uma homenagem. Não conseguiu chegar ao palco, mas a homenagem aconteceu, com a exibição do filme Rio Zona Norte, em um telão. "Meu pai trabalhava muito e praticamente não ficava em casa. Na véspera de sua morte, chegou a noitinha de Brasília, onde foi assinar o seu livro. Estava com uma passagem marcada para as duas horas da madrugada, para Paris. Só foi em casa arrumar as malas, saindo em seguida e tomando um táxi para o aeroporto. Ao chegar em Paris, sofreu um infarto, e já havia sofrido outros três antes, e morreu", lembra um dos filhos.
Grande Otelo por Nelson Pereira dos Santos ![]()
Falar sobre Grande Otelo para mim é sempre um enorme prazer, misturado a um sentimento de saudade e nostalgia. O Otelo foi uma figura muito importante para as artes no Brasil, além de um grande amigo e conselheiro. Quando eu tinha qualquer problema, de qualquer ordem, batia em sua porta e lá estava ele, pronto para me orientar com idéias e conselhos. E nasceu a Atlântida
Na época, 1957, eu tinha ganhado um prêmio com o filme Rio 40 graus e no dia da entrega encontrei com o Manga e o dono da Atlântida, onde Otelo trabalhava. Aproveitei então para falar do meu desejo de convidar Otelo e eles me desencorajaram completamente, dizendo que era irresponsável, malandro, enfim, pintaram um quadro muito negativo de Otelo. Zona Norte com Otelo
Bom, o filme fez um enorme sucesso e a partir daí passamos a ser grandes amigos. Comunicativo em qualquer parte do mundo
Era um amigo de todas as horas e estávamos sempre em contato. Lembro-me de uma vez que eu estava em Paris e Otelo me ligou, tarde da noite, convidando para jantar. Era um domingo de inverno e ele havia acabado de chegar no país. Pensei que não tinha muita coisa aberta e o convidei para jantar na casa de uma amiga, que se prontificou a cozinhar para nós. Sempre com o povo
Uma pessoa extremamente comunicativa, Otelo se relacionava bem em qualquer lugar do mundo. Tinha uma ótima relação com o povo, freqüentava os restaurantes e cabarés, e lá fazia amizade. Fora isso, me lembro do Otelo como um grande criador. Fazia poesias, letras de samba e também argumento para cinema. Esse material está com a sua família. |