Navegando pela internet ou assistindo à televisão nesses tempos de rebelião popular em que vivemos, vemos de tudo. Notícias aparentemente desconexas e, por vezes, contraditórias como o suposto crescimento econômico do país junto ao avassalador aumento da mortandade dos jovens por assassinatos1.
Um dos aspectos mais absurdos e nocivos do monopólio midiático é a banalização das notícias, ditas e repetidas sem qualquer relação de causa e efeito, como verdades prontas e acabadas. Não seria, no mínimo, estranho crer que em um país que se desenvolve, o seu recurso mais valioso, o ser humano, seja dilapidado de maneira tão vil?
Vivemos numa sociedade hipócrita com valores decadentes, onde as vidraças dos bancos e lojas de grifes valem mais do que a vida dos jovens nas periferias. Enquanto é grande o estardalhaço por conta de umas quantas vidraças quebradas, pouco ou quase nada se falou sobre o massacre promovido pela Polícia Militar do Estado do Rio (PMERJ) e o Batalhão de Operações Especiais (Bope) na comunidade da Maré no Rio de Janeiro no mês passado.
O belíssimo poema de Bertolt Brecht nunca foi tão atual:
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar".