
Posto policial destruído e pichado pela justa revolta popular.
No dia 14 de novembro, um confronto entre a população revoltada de Rio Pardo, município de Buritis, Rondônia, e soldados da Força Nacional de Segurança resultou na morte de um policial e viaturas queimadas.
O confronto começou na tarde do dia 13, quando integrantes do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBIO), Ibama, juntamente com policiais federais e Força Nacional, haviam realizado uma operação na região, apreenderam motocicletas, prenderam moradores da Floresta Nacional (Flona) Bom Futuro e deixaram um ferido com um tiro na perna. Revoltado, o povo interditou pontes e estradas com árvores derrubadas, retendo cinco viaturas das forças de repressão. Os moradores exigiam a libertação dos presos e a devolução das motocicletas.
Reforços policiais foram enviados para a área e os presos foram levados para a delegacia em Porto Velho. Explodiu a revolta.
Enfurecidos, os moradores destruíram uma construção onde iria funcionar a nova base da Polícia Militar no distrito. A página da internet Buritis News cobria os acontecimentos e registrou em vídeo o desenrolar do confronto.
É possível ouvir claramente a narração feita pelo repórter. Num primeiro momento os manifestantes avançam e os policiais batem em retirada. O repórter diz: “Os moradores não estão recuando não, vão para cima da polícia. Não tem ninguém armado, como estavam dizendo. Diziam que havia troca de tiros, mas não há ninguém com armas aqui”.
— Faltavam 15 dias para entregarem o quartel da PM e destruíram tudo. Eles querem hospital e escola e não base da polícia, deixaram isso escrito nas paredes antes da destruição de todo o prédio — diz o repórter.
José Matias, morador de Rio Pardo desde 1998, relatou ao Buritis News que agentes da Secretaria Estadual de Meio Ambiente – Sedam retiraram várias famílias da Flona, colocando-as em um assentamento e impedindo que trabalhassem e produzissem.
José Matias conta que o povo vive naquelas terras há muito tempo. “Prometeram muitas vezes que dariam terra para o povo, mas não cumpriram. Hoje não têm médicos, hospital, escola. Fizeram uma base para a polícia onde poderia ter um colégio hoje. Por isso o povo está revoltado” — explicou.
As imagens mostram a multidão cercando os policiais. Um homem com o rosto ferido denuncia as forças de repressão. Um pequeno grupo de policiais militares, acuado, recua. Ao fundo, viaturas estacionadas. É possível ouvir muitos sons de disparos.
Mais e mais pessoas se somam ao protesto. Jogam pedras e paus nos policiais que mais uma vez são forçados a fugir.
Ao longe, uma viatura começa a pegar fogo. Mais sons de disparos que partem da viatura em chamas. Munições e armas abandonadas pelas forças de repressão detonaram com o calor das chamas que consumiam a viatura.
Uma viatura explode e há mais sons de disparos partindo dos veículos poiciais. É possível ver as forças de repressão sendo expulsas do povoado, retirando-se às pressas, abandonando viaturas e soldados feridos. O repórter narra: “Um policial ficou para trás”, “meu deus, tem um policial baleado, a arma ficou dentro da viatura. A viatura pegou fogo e a arma disparou!”.
O vídeo termina nesse ponto.
A situação é grave e os moradores denunciam o clima de terror e a brutal repressão desencadeada contra a população local. No dia 15, mais efetivos policiais foram deslocados para a Flona Bom Futuro. Camponeses, pequenos madeireiros e comerciantes da região são diuturnamente perseguidos e reprimidos. Já ocorreram repetidas tentativas de despejo violento dos moradores da área e há histórico de brava resistência dos habitantes locais.
A LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental alerta para que qualquer massacre ou desfecho sangrento é responsabilidade de quem enviou as tropas para a região, no caso, Dilma Rousseff (PT) e Confúcio Moura (PMDB).
A Força Nacional se encontra na região há meses reprimindo o movimento camponês combativo e posseiros que vivem e produzem há décadas em suas terras, a pretexto de que ocupam áreas de preservação ambiental.
Momentos antes do fechamento dessa edição de AND, Felipe Nicolau, membro da Associação Brasileira dos Advogados do Povo, fez contato com a redação via telefone diretamente de Porto Velho e nos informou que visitaria os presos levados para o presídio Pandinha, na capital.