O ministro da Justiça marcou um encontro com povos indígenas e órgãos de S. Catarina para o dia 23 de dezembro, quando gravíssimos problemas seriam tratados, e não apareceu em Florianópolis. Até o fechamento desta edição de AND José Eduardo Cardozo não havia sequer explicado sua ausência. “A gente quer que venha, como prometeu, mas parece que ele sumiu...”, disseram lideranças dos índios catarinenses.
A data foi indicada pelo próprio Cardozo, quando em reunião realizada em 9 de dezembro pediu 15 dias para retornar à capital catarinense.
Naquele instante, conforme relato da jornalista Elaine Tavares, um indígena recordou ao ministro que ele já havia pedido um prazo de 15 dias numa reunião da qual participaram em Brasília, meses atrás. “O senhor teve o prazo e não fez nada. Agora quer mais 15 dias?”
Cardozo respondeu que teve de cuidar de um conflito que estourou na Bahia e não teve tempo de definir as demandas do sul. “Mas nós aqui também temos conflito. Qual é a diferença?”, argumentaram os índios.
Um líder, incomodado com o novo adiamento solicitado pelo ministro, se dirigiu ao vice-governador Pinho Moreira, que também estava na reunião: “Nós somos filhos desse estado e vocês esqueceram de nós. Estão fomentando a guerra entre os seus filhos, nós e os colonos. Todos os estudos já foram feitos, tudo já está definido há 20 anos. Que mais há para esperar?”, contou Elaine.
Os incitadores
Em S. Catarina habitam grupos das nações guarani, kaingang e xokleng, que vêm enfrentando uma situação muito difícil devido à não-legalização das Terras Indígenas (TI) Araça`í , Morro dos Cavalos, Toldo Imbu, Pinhal 2, Canhadão e La Klaño.
Boa parte desses territórios está tomada por brancos, alguns deles pequenos agricultores. Com a demora nos processos de indenização e na retirada desses ocupantes, as gerências federal, estadual, fazendeiros e empresários têm jogado pobres contra pobres, ou seja, colonos contra índios.
Disse Elaine Tavares: “Todas essas comunidades estão há mais de 20 anos aguardando pela demarcação e desintrusão de suas terras e desde aí também vivem em permanente conflito com as famílias não-índias que ocupam o território. Muitas dessas famílias compraram as terras de boa fé, mas é possível também observar a ação de especuladores que acabam incitando as famílias contra os indígenas, inclusive atrasando as negociações.”