Tropas militares continuam ocupando uma área rural no munícipio colombiano de Macarena e reprimindo agricultores pobres da localidade de San Juan de Lozada, conforme denunciou recente relatório da entidade Reiniciar (Corporação para a Defesa e Promoção dos Direitos Humanos).
Os camponeses e organizações de direitos humanos tinham acreditado em promessas feitas por um comandante regional do Exército, durante assembleia realizada em 27 de julho, de que os soldados desocupariam o vilarejo de San Juan e que as ações abusivas contra os moradores, bem como ataques armados a diversas casas (cometidos por “desconhecidos”, provavelmente integrantes da própria tropa de ocupação), seriam investigados.
Agora, no fim de setembro, a comunidade constatou que nada foi feito e que o Exército mentiu. A ilusão de que diálogos e acordos com os podres poderes das classes dominantes possam resolver problemas do povo oprimido é comum em locais e situações onde grupos verdadeiramente revolucionários não existem. Os revezes, como este ocorrido no vilarejo colombiano, embora lamentáveis, têm a qualidade de aguçar o senso crítico das massas e promover o amadurecimento de lutas populares mais consequentes.
Relembrando o caso
Conforme nota da Associação Nacional de Zonas de Reserva Camponesa (ANZORC) que AND publicou na edição no.134 (segunda quinzena de julho), o quadro em San Juan naquele mês era o seguinte:
“Neste local há tropas acampadas dentro e ao redor da parte urbana, a cargo do major Leonardo Portela (ou Miranda) vinculado ao Batalhão de Combate 71 da Brigada Móvel Nº 9, o qual viola as normas estabelecidas no Direito Internacional Humanitário (DIH).
Em novembro de 2013 essas tropas chegaram a San Juan de Lozada, onde instalaram dentro e ao redor do casario dois acampamentos militares, permanecendo até hoje e cometendo infrações ao postar-se perto das moradias da população civil e fazendo ocupação de terrenos comunitários como: a pequena casa comunal, a praça da feira e o prédio de propriedade do senhor Jairo Andrés Giraldo.
Desde a chegada do Exército Nacional em San Juan, têm sido constantes as agressões e os operativos (detenções, interrogatórios ilegais e registros fotográficos e em vídeo de carteiras de identidade e de pessoas).
Perto das 7:50 da noite de 4 de julho de 2014 se produziu um metralhamento indiscriminado contra as casas do centro povoado no setor 3, que deixou como resultado o pânico e o terror entre a comunidade, ademais dos danos contra a residência de Ángel Humberto Torres Zapata, representante legal da Associação Camponesa Ambiental Lozada-Guayabero e membro da ANZORC.”
No documento, a Associação responsabilizava o gerente Juan Manuel Santos Calderón (“presidente” da República), o ministro de Defesa Nacional Juan Carlos Pinzón e o major Leonardo por todas as violações verificadas naquela comunidade. E marcava uma assembleia, tendo também militares como convidados, para 11 de julho.
Transferida para 27 de julho, a reunião contou com a presença de moradores/camponeses, diversos organismos de direitos humanos (inclusive ONGs internacionais) e o coronel Baquero, do comando do Batalhão Caçadores de San Vicente Del Caguán.
O representante do Exército prometeu que os soldados desocupariam o vilarejo; que os “direitos humanos” passariam a ser respeitados; que as ações abusivas contra os moradores, bem como ataques armados, seriam investigados.
O otimismo (ou a ilusão) foi grande. E o noticioso Prensa Rural deu a seguinte manchete no dia 30 de julho, na internet: “Realizam-se acordos entre a ZRC de Lozada-Guayabero e a Brigada Móvel no. 9”.
Marcou-se nova assembleia, para avaliação das medidas adotadas, para 27 de setembro com a presença de Baquero.
Resultado: o homem não apareceu. E pior, a entrada de militares na sala, chefiados pelo major Leonardo Miranda (ou Portela), não foi para participar de nada e sim para fotografar e fichar todos os presentes.
A denúncia foi feita por Esmer Montilla Gutierres, presidente da DHOC (Fundação pela Defesa dos Direitos Humanos do Oriente e Centro da Colômbia) à entidade Reiniciar e publicada em relatório desta, na internet.
Nem é preciso dizer que a avaliação da assembleia foi de que nenhuma medida foi adotada pelo Exército, nenhuma promessa foi cumprida, e a repressão prossegue.
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Fontes utilizadas: Relatório, em sítio na internet da entidade colombiana Reiniciar (Corporação para a Defesa e Promoção dos Direitos Humanos). (Reportagem) Se logranacuerdos entre la ZRC de Lozada-Guayabero y la Brigada Móvil no. 9; 30 de julho 2014, em sítio prensarural . org.