Dentre os vários tópicos do esclarecedor editorial da edição passada do AND, a afirmação de que “Com muito mais dificuldade que nos pleitos anteriores, as siglas eleitoreiras conseguiram transformar a farsa eleitoral em um plebiscito... e talvez nem se deram conta de que cada voto para seu candidato foi, na verdade, o voto contra o outro, voto esse influenciado por preconceitos, moralismos, ataques pessoais, etc.”. Esta constatação nos remete a outra que já vínhamos advertindo em nossas páginas: os eleitos carecem cada vez mais de legitimidade. Caso mais expressivo disso foi o resultado do Rio de Janeiro, onde Pezão obteve uma votação menor do que a soma dos votos brancos, nulos e abstenções.
No caso da eleição para a gerência da semicolônia Brasil, além dos votos brancos, nulos e abstenções, se considerarmos a categoria do voto constrangido, ou seja, o voto contra o outro, também chamado de “voto útil” ou “voto no menos pior”, veremos que tanto a vencedora, no caso Dilma Rousseff, quanto Aécio Neves, que perdeu por 3% de diferença, não têm motivos para arvorarem a legitimidade que ambos passaram a arrotar depois do pleito.
Pois que, na verdade, a ilegitimidade não está mesmo nos números e sim no caráter corrupto e putrefato do processo eleitoral que emana deste sistema de exploração e opressão semicolonial e semifeudal a que o imperialismo, principalmente ianque, subjuga a nação e nosso povo, através do velho Estado genocida e seus gerenciamentos de turno.
Como afirmamos em nosso artigo na edição passada, tanto os representantes do Partido Único quanto a “esquerda” eleitoreira se esforçam para passar a ideia de que a briga entre o velho e o novo no País se trava por dentro de dito processo eleitoral. Processo este que nasceu podre no Brasil colonial, seguiu purulento na “República” e supura nos dias atuais. Historicamente, no Brasil, o novo só tem sido o revoltoso, que ao longo dos 5 séculos veio sendo esmagado a ferro e fogo todas as vezes que emergiu e ameaçou a velha ordem. Assim foi com a resistência indígena aos “conquistadores”, a resistência dos negros escravos, as lutas independentistas do jugo português e de expulsão dos holandeses, as inúmeras insurreições em diferentes regiões do país de afirmação da nacionalidade após a separação de Portugal, as guerras camponesas, as insurreições e revoltas armadas anti-oligárquicas, o Levante Popular antifascista de 1935, as novas lutas camponesas armadas, as lutas armadas contra o regime militar fascita pró-imperialista.
O novo é o que segue persistindo e arde como fogo de monturo, lançando de tempos em tempos labaredas aqui e acolá. O novo é a negação dessa velha ordem e que se gesta e expressa na rebeldia do boicote, da urna incendiada por um operário no interior de Minas Gerais e, mais que isso, nas chamas das barricadas erguidas nas ruas e estradas, nas quais o povo escreve com fogo as suas reivindicações.
Fascistas X comunistas
Porém, entremos aos números a ver o que revelam por debaixo da cortina de mentiras, ginásticas estatísticas por pintar de outras cores a realidade. A falsa polarização da campanha eleitoral ultrapassou o pleito turbinada pela ressurreição do PSDB produzida pelo PT, que, temendo a candidatura de Marina, escolheu Aécio para adversário no segundo turno e pelo desgaste petista, comprovado pela perda de 20% de sua bancada parlamentar, como também pela baixa votação de Dilma na maioria dos estados economicamente mais fortes e desenvolvidos. O clima de “guerra fria” com manifestações e alarmes de golpe logo na primeira semana, na mais ridícula e delirante encenação em que uns fazem poses como se fossem de esquerda e os outros atiram contra estes a pecha de perigosos comunistas, é outra farsa que não passa de mistificação e ação diversionista com a finalidade de conservarem posições conquistadas no apodrecido jogo eleitoral.
Senão vejamos: a composição inicial do PT, formado por trotskistas, guerrilheiros arrependidos, igrejeiros e sindicalistas treinados pela CIA, depois ampliada por revisionistas, arrivistas e oportunistas de vários calibres, não deixa a menor sombra de dúvida de que esta sigla do Partido Único, mesmo usando o fantasma de Cuba, não passa de, nada mais nada menos, uma organização de direita.
A comprovação disso no terreno da prática se dá pelo fato de há doze anos assumirem o compromisso de gerenciar o Estado brasileiro sob o tacão da política de subjugação nacional estabelecida pelo imperialismo, através de seus órgãos executores de tal política como FMI, Banco Mundial, OMC e outros. Neste aspecto está a sua semelhança com o PSDB e também com Marina Silva, como bem já demonstramos nesta página em edições anteriores. Acontece que a extrema direita, cujo candidato só serviu para ser alvo de zombarias nas redes sociais, tentou botar na rua o seu bloco de torturadores de ontem e de hoje, esbravejando o seu anticomunismo visceral, aproveitando-se da parca representatividade de Dilma nas regiões já citadas, procurando angariar adeptos entre aqueles que votaram em Aécio, não por achá-lo o melhor, mas por serem contra Dilma e o PT.
Ver qualquer traço de comunismo em Dilma, uma delatora e renegada que usa sua prisão pelo regime militar para enganar incautos, e no PT, com sua récua de bandidos da velha “democracia” brasileira, só pode ser obra da genialidade política de imbecis ou dos espasmos e flatulências das mentes doentias dos Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho da vida. Quanto ao fascismo, este não é monopólio das mentes doentias que habitam estas cabeças e a das demais viúvas do regime militar.
O fascismo é a política do capital financeiro de acerto de contas com a classe operária, quando em crise aguda e de forma permanente, para manter o seu domínio sobre as colônias e semicolônias, fazendo, portanto, parte intrínseca do Estado semicolonial. Portanto, é uma tremenda mistificação a acusação de tentativa de um golpe de direita e de ameaça fascista no Brasil.
Primeiro porque o gerenciamento petista serviçal do imperialismo, do latifúndio e da grande burguesia, ao reafirmar seus compromissos com a política de subjugação nacional, já confirmada mediante a elevação dos juros da taxa Selic, do reajuste dos combustíveis, da energia elétrica e da redução de gastos com o social, não oferece ameaça alguma aos mais secundários interesses de seus amos, muito ao contrário.
Em segundo lugar, o gerenciamento petista ao praticar a corporativização das massas, ao reimpulsionar as forcas armadas como tropa de ocupação, ao manter os campos de concentração em forma de presídios, ao administrar a opressão e exploração sobre operários e camponeses e ao incrementar a criminalização do povo pobre, já há doze anos vem aprofundando o fascismo.
A guisa de constatação
Algumas lições devem ser tiradas deste fraudulento processo eleitoral para afirmar perante aqueles se iludiram com o mesmo, alertando assim para os próximos pleitos:
O processo eleitoral é um sistema de Partido Único das classes dominantes exploradoras, dividido em várias siglas eleitoreiras que disputam o gerenciamento de turno no velho Estado.
A eleição é uma farsa que nada muda na estrutura econômica, política e social do país.
Ganha a eleição quem recolhe mais dinheiro, Dilma que o diga.
Bancos, transnacionais, empreiteiras e agronegócio são quem financiam todos os principais candidatos.
As pesquisas são um dos principais instrumentos de manipulação das eleições.
O aumento do número de votos branco e nulos e especialmente da taxa de abstenção (boicote) foi resultado da elevação do protesto popular.
A continuação do gerenciamento petista, com a inevitável explosão da crise econômica que maquiou para ganhar as eleições, viverá seus dias de inferno, traições de aliados, rachas internos, mais corrupção, mais repressão e crises políticas sucessivas.
O movimento camponês seguirá tomando terra e destruindo o latifúndio.
Na cidade, o movimento operário continuará sua marcha de depuração com a expulsão dos pelegos e desmonte da corporativização.
As rebeliões populares nas cidades seguirão explodindo e a juventude combatente elevará crescentemente sua consciência política, apesar da repressão fascista.
O rechaço à velha ordem e o boicote à farsa eleitoral seguirão crescendo e o caminho da Revolução de Nova Democracia se afirmará cada vez mais.