Legítimo representante das barrancas do São Francisco, Pedro Sampaio é um cantador que defende as coisas da sua terra, usando para isso sua música. Tendo o rio como principal fonte de inspiração, e todo o movimento que acontece em seu redor, Pedro está lançando um DVD que conta sua vivência.
— Sou de Xique-Xique, no Vale do São Francisco, uma pequena cidade baiana. Hoje, cerca de 50 mil habitantes, mas na época que nasci, 1959, era muito interior mesmo, com difícil acesso à música. Televisão nem tinha por lá — conta Pedro.
— Mas meu pai era um músico saxofonista, e tinha um conjunto, que hoje chama-se banda, e nós herdamos dele essa vocação. Desde garoto comecei a despertar na música, primeiramente como baterista. Eu mesmo confeccionei minha bateria, enquanto meu irmão fez seu violão, com corda de nylon.
Seu irmão fundou uma banda, em 1974, e Pedro assumiu o cargo de baterista da mesma.
— Nunca mais parei. Todo mundo importante que ia tocar pela região nós saíamos acompanhando. Nesse tempo andei com Sérgio Reis etc. Em 1981 vim para Salvador e fixei residência, adquirindo família e tudo, e trabalhei como bancário por quase 15 anos —relata.
— Só que paralelo continuava fazendo trabalhos de música. Toquei em algumas bandas, participei de uma banda de baile, toquei em uma boate em Salvador, e em uma banda de forró chamada ‘Forró pau de sebo’. E fiquei participando de festivais, tirando primeiro, segundo, terceiro lugar, ganhando como melhor intérprete, e por aí foi.
Em 1987 Pedro começou a tocar violão nas noites, migrando de instrumento.
— Nesse mesmo tempo passei a compor minhas próprias músicas, e dois anos depois consegui gravar um LP, chamado Natureza.Naquela época eram poucos aqui que tinham disco para mostrar, e quem conseguia gravar um, recebia um reconhecimento enorme —recorda.
— Desde o princípio minha música seguiu uma mesma linha. Alguns colegas se definem como forrozeiros, mas forrozeiro tem a sua época de trabalhar, que é no meio do ano, e só vive aquele momento ali. Já eu trabalho o ano inteiro —explica.
— Por isso me defino como um cantador forrozeiro. Além do forró, canto o ano todo o xote, guarânia, baião, fado, canção, enfim, tudo que faz parte da música barranqueira.
Segundo Carlos, pelo interior, nas barragens do São Francisco, tem uma imensidão de artistas fazendo esse tipo de música.
— É aquela que fala do rio, nossa maior fonte de inspiração. Quer dizer, é a cultura do povo musicada, sua comida, a dança, o reisado, que é uma festa regional muito conhecida nas margens do rio — fala.
— A música barranqueira envolve tudo isso, os sentimentos do povo, a natureza. Falamos do que acontece na beira do rio, do que vivemos, as embarcações, as viagens pelo rio, o vapor gaiola, que navegou bastante no rio, chegando a existir 37 embarcações —continua.
— Hoje existe apenas uma, em Pirapora, mas é só para passeio turístico, e mesmo assim está muito seco. Gravei uma música dentro de um desses vapor.