Brincando com assuntos sérios, o forrozeiro Ton Oliveira manda seu recado e abre os olhos do povo. Além de letras que falam de política e questões sociais em forma de denúncia, o paraibano de Campina Grande trabalha as raízes culturais, o cotidiano do povo nordestino e apresenta obras de importantes artistas que muito o influenciaram.
— Meu pai, Juvenal de Oliveira, era poeta repentista, tocador de viola e eu fui embalado pelas cantorias, pelos baiões da viola do meu pai e dos parceiros que frequentavam a nossa casa, que faziam dupla nos congressos nacionais de violeiros, nas cantorias mesmo etc. — conta.
— Comecei a falar e ao mesmo tempo já tentava fazer as primeiras rimas, um verso que fosse. Com 13, 14 anos de idade já passei a ganhar um dinheirinho tocando triângulo, zabumba nos trios de forró, nos conjuntos musicais — continua.
— Toquei em bares, violão e teclado em alguns conjuntos, mas escolhi o forró. Sou um forrozeiro, trabalho a música nordestina e faço questão de apresentar músicas de grandes nomes, como: Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, os quais inclusive muito me influenciaram — diz.
Em seu repertório autoral, desde o primeiro disco Ton costuma falar de questões sociais.
— Acho que esta é uma obrigação de cada um de nós artistas. Mas desde que seja feito de forma muito séria, com compromisso realmente, e não vestindo camisa de partido A ou B — afirma.
— Sou povo e como artista sou representante do povo, me vejo na obrigação de me posicionar, denunciar de alguma forma o que estou vendo. Acho importante este posicionamento, principalmente quando também é o de milhares de pessoas — fala.
Ton gravou seu primeiro disco em 1991 e até o momento são cerca de 30 trabalhos gravados: vinis, CDs e DVDs.
— A maioria das músicas são de minha autoria e algumas fiz com parceiros. Entre outras, no primeiro disco tem: ‘Falta um boi vaqueiro’, feita em parceria com o meu pai — diz.
— O boi vaqueiro para a cultura sertaneja e nordestina é aquele que segue na frente e a boiada vai atrás. Então fizemos uma simbologia desse boi com o presidente da república, que é quem está à frente do país. Começamos falando um pouco da vaquejada, mas depois viramos a coisa para a política — conta.
Verdade e irreverência
“Eu sou candidato nessa eleição, estou prometendo tudo pro bem da população/quando for eleito, ah, eu crio asa/vou ajudar o povo, mas o povo lá de casa/Pra defender os direitos da família o meu filho e minha filha vão pro primeiro escalão/minha mulher vai virar primeira dama, de noite a gente se ama e de dia é passado a mão/eu tenho um colega na cidade vizinha que fica com a turma minha e a dele comigo vem/e desse jeito fazendo malabarismo não existe nepotismo e todo mundo se dá bem”.
Canta Ton em ‘O Candidato’. E no final ele fala, ainda na música: “Quem não quiser votar em mim, pode votar em qualquer um dos colegas candidatos que o resultado vai ser isso aí, vai dar no mesmo”.
— Tento levar a coisa para a brincadeira, é meio uma piada musical, mas com um fundo muito forte de verdade, porque são coisas que realmente acontecem no Brasil. E o que me leva a fazer essas músicas é a inspiração mesmo do nordestino, do poeta — define.
Na mesma linha de ‘O Candidato’ está a música ‘O Prefeito’, quando Ton especifica o cargo:
“Mamãe, agora eu quero ser prefeito/Garanto que vou me candidatar/Do jeito que já sei mentir bastante/Acho que de hoje em diante minha vida vai mudar/Pra quem me apoiar eu dou abraço/Se fala mal de mim eu dou dinheiro e ele muda/E vai ficar tudo do mesmo jeito/Se eu ganhar para prefeito/É o mesmo “deus nos acuda”/É a cidade esburacada (ai ai ai)/E o povo vivendo mal (ui ui ui)/Mas quando a coisa ficar preta/Eu invento uma micareta/E faço aquele carnaval/Trago um conjunto da Bahia (ai ai ai)/Pago mais do que ele merece (ui ui ui)/Se pagar 100 digo é 500/Desviando os 400 meu saldo banqueiro cresce/Ai o povo esquece tudo (ai ai ai)/E no embalo desse som (ui ui ui)/A cidade fica feliz/E ainda tem gente que diz:/”eita, que prefeito bom!”.
‘O Prefeito’ chegou a ser proibida de tocar nas rádios, mas Ton recorreu.
— Problemas aconteceram em várias cidades, mas o fato que chamou mais atenção foi aqui mesmo no Nordeste. O juiz proibiu de tocar nas rádios, entendendo que estava desfavorecendo um tal candidato em prol de outro — relata.
— Nem conheço a cidade, nunca estive lá. Então recorri e ganhei a causa, porque era a expressão musical que estava sendo cortada, decepada por um juiz com um ponto de vista equivocado — diz.
— Provamos que há vários anos fazia parte do meu repertório, já tinha sido gravada em disco. Inclusive é interessante dizer que mesmo gravada há bastante tempo a música é totalmente atual, nada mudou — constata.
Uma música de Ton, devido ao seu conteúdo, certa vez foi inserida em uma prova da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
— Foi ‘O país da sacanagem’. Em cada verso eu cobro do senador, do governador, do deputado, do presidente da república, enfim, de todos providências para tantos problemas que o país enfrenta — fala.
— Deixo claro que não é pessimismo: acredito no Brasil, acredito no nosso povo. É uma visão realista, porque não posso ficar calado, me sinto na obrigação de falar a verdade e sempre existiram artista com esse compromisso, não sou o único — fala.
— Durante o regime militar alguns compositores tinham essa coragem e enfrentavam a repressão. O próprio Luiz Gonzaga de alguma forma fazia isso quando dizia: ‘doutor, o jumentinho está morrendo de sede’. Ele estava cobrando uma posição, mas não falava abertamente — lembra.
No momento Ton Oliveira está fazendo shows pela Paraíba e estados vizinhos.
— Trabalho o ano inteiro. Além dessas, tenho outras músicas engraçadas, com duplo sentido, irreverência, brincadeiras, falando de outros assuntos, das nossas raízes, da cultura, do cotidiano do nosso povo nordestino. E convido a todos para vir conhecer a Paraíba, esse estado que tanto amo — finaliza.
(83) 99619-6060 é o contato do artista.