No sábado 11/03 ocorreu a inauguração da sede do Bloco de Re-Existência de Camaçari, na Bahia. Situado na comunidade Santa Maria, o espaço visa a promoção de esporte, lazer e cultura em uma região negligenciada da cidade, no qual o único serviço público oferecido aos moradores é o braço armado da repressão do velho Estado.
O evento deu início à concretização de um antigo desejo do coletivo de ter um espaço para se organizar e estar cada vez mais conectado com as massas. O bairro que hoje abriga a sede não foi escolhido ao acaso, possuindo apenas um código de endereçamento postal (CEP) para todas as ruas, é descrito no site dos Correios como Favela Santa Maria.
Distante do Centro camaçariense, a Santa Maria é esquecida pelos politiqueiros profissionais, sendo lembrada apenas em tempos de farsa eleitoral, porém, passada a época do circo, as promessas feitas são esquecidas e a população continua com seus velhos problemas, sem acesso muitas vezes ao básico para que se tenha uma vida minimamente digna. O acesso a esporte, cultura e lazer, por exemplo, é uma realidade distante para muitos moradores daquela localidade.
Com o local definido, era hora de buscar as condições materiais para a concretização do projeto. Seguindo o princípio de apoiar-se nas próprias forças, inicialmente contando apenas com recursos dos próprios integrantes do Bloco, o espaço foi tomando forma e a solidariedade das massas logo apareceu, em pouco tempo doações de livros para a biblioteca, cadeiras, mesas, computador, estantes, quadros, enfim, uma série de itens essenciais para o funcionamento da sede começaram a chegar. Mais importante ainda foi a disposição de membros da comunidade em participar ativamente do projeto como é o caso, por exemplo, de John Bispo e Flávio, moradores do bairro que desde o início se colocaram à disposição para ensinar capoeira no espaço.
Após três meses de trabalho tentando transformar um simples casebre em um espaço cultural, era chegada a hora de abrir as portas do espaço para a comunidade e o resultado não poderia ser melhor. O evento de inauguração começou com a apresentação da tradicional Associação de Capoeira Engenho, dos mestres Baiano e Grandão. A cada toque do berimbau a comunidade seguia em direção ao espaço que ficou pequeno diante de tanta curiosidade e admiração. As crianças foram contagiadas e acabaram entrando na roda de capoeira, o grupo conduzido ali pelo mestre Picapau, ainda nos trouxe o belíssimo maculelê e o tradicional samba de roda que envolveu toda comunidade.
Ao final da tarde, com o encerramento da roda, onde os mestres disseram importantes palavras de incentivo ao projeto, as pessoas que já ocupavam parte da rua tiveram a oportunidade de também prestigiar a apresentação dos músicos locais Victor Santos e Herbert Araújo tocando clássicos do reggae, da MPB, entre outros, e ainda contar com a participação de Mc Scheffer, que veio da cidade vizinha de Dias D’Ávila, e apresentou músicas autorais, com letras que despertam o pensamento crítico dos jovens da periferia como o rap “Não venda seu valor”, além de contribuir deixando mensagens de resistência nos muros e captando a atenção da juventude presente com a arte em grafite.
Ultrapassando o limite do puro e simples assistencialismo, o projeto visa, sobretudo, servir ao povo, discutindo os problemas da comunidade, entendendo quais são suas dificuldades e, diante da realidade semicolonial que vivemos e dos constantes ataques aos direitos dos trabalhadores, provocar a politização das massas, despertar para a necessidade de romper com essa velha farsa eleitoral, demonstrar que somos capazes de nos apoiar em nossas próprias forças e ajudar a construir o caminho para uma transformação radical de nosso país.