Cantador, violeiro e cordelista brasileiro, o paraibano radicado no Rio de Janeiro, Chico Salles, mistura seu forró nato com o samba carioca. Defensor e propagador da fusão desses dois gêneros da cultura popular brasileira, Chico trabalha o carnaval e o São João com a mesma intensidade e se prepara para lançar seu oitavo CD, Samba Nordestino.
— Minhas influências foram Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Marinês e Trio Nordestino. Até meados dos anos 1960, eram esses os nossos artistas que tocavam no rádio e nas difusoras espalhadas pela cidade, com programação absolutamente local e os LPs que chegavam — conta Chico.
— Já no final da década, com o Regime de Exceção [regime militar fascista de 1964] pintou a Jovem Guarda, que não me pegou. Eu gostava muito também dos Poetas de Cordel, que meu pai lia em casa antes de dormir e que apreciava nas feiras, onde eles se apresentavam — continua.
Em fevereiro de 1970, aos 17 anos, Chico migrou sozinho para o Rio de Janeiro.
— Vim, como tantos outros nordestinos, buscar melhor qualidade de vida, pois tinha concluído o ginásio na minha cidade, e não tinha mais o que estudar. E era isso o que eu queria. Vim com a cara e a coragem procurar uma tia que estava no Rio, que eu não conhecia, pois tinha vindo em 1955 — recorda.
— Iniciei minha militância poética exatamente nesta época, escrevendo modestos versos e poemas simplórios, que não os mostrava a ninguém. Alguns vinham com uma música junto, outros apenas o texto. Falava da saudade da distância do meu povo e dos impossíveis amores, era uma mistura de forró e cordel — relata.
Mas Chico Salles foi conhecendo a cultura carioca e somando com a que trazia consigo.
— Quando cheguei no Rio a música do momento era “Foi um Rio Que Passou na Minha Vida”, de Paulinho da Viola, e o samba carioca me pegou. Tempos depois, já no início da década de 1980, conheci o Trapalhão Mussum, pela vizinhança — conta.
— Morávamos no mesmo condomínio em Jacarepaguá. Do encontro regular no mesmo bar nasceu um Bloco de carnaval e a nossa parceria com a música e os encontros — continua.
Junto com Mussum — conhecido humorista, compositor e ator brasileiro —, Chico fez muitos sambas, músicas de carnaval e um xote. Andando pelo mundo do samba, Chico fez também outras parcerias e participou de concursos para samba enredo de blocos carnavalescos.
— Concorri com meu parceiro Beto Moura em três sambas enredos para a escola de samba Unidos da Tijuca, mas não ganhamos. Ficamos duas vezes na final. Já nos blocos, fui vencedor em vários: Simpatia é Quase Amor, Banda da Barra, Barbas, Vem Cá me Dá e outros — diz.
Arte resultado de vivência
— Como cordelista que sou, me considero um cronista do meu tempo. Sou feliz e otimista, frequentador de botequins e admirador da boa prosa. Minha mágoa está nos nossos governantes e dominantes, que historicamente, tratam muito mal a nossa gente e nossas crianças — diz Chico referindo-se às letras de suas músicas.
— Sempre que me apresento, e é possível, faço a mistura do forró com o samba, que é aplaudida. A mídia é quem os separa demais, o povo gosta muito dos dois. Sou um nordestino carioca e tenho assinado esta causa, justíssima — declara.
— Mas não sou nenhuma novidade nessa história de juntar o forró e o samba. Jackson de Pandeiro, Gordurinha, João do Vale, Bezerra da Silva e outros já fizeram isso. Sou apenas uma resistência e um propagador desta fusão dos dois mais populares gêneros musicais do Brasil — continua.
Chico transita nos dois gêneros: às vezes só forró, outras vezes apenas samba, e em outros momentos os dois no mesmo show.
— Tenho um show denominado “Sambando no Forró”, que tem sempre um sambista ou um forrozeiro convidado. Quando é um sambista faço o forró e quando é um forrozeiro faço o samba — fala.
— Nos meus sete CDs gravados, predomina o forró. Tenho apenas um exclusivamente de samba, o Sérgio Samba Sampaio por Chico Salle. Nos demais, sempre gravo sambas, mas o forró prevalece. Penso que, como autor, o meu lado forrozeiro seja mais forte, mas como intérprete são iguais — diz.
Como forrozeiro e sambista, Chico participa do carnaval de rua carioca e trabalha nas festividades juninas.
— Das escolas de samba não participo mais, por compreender que o samba enredo deve ser dos sambistas das agremiações, mas, do carnaval de rua sim. Este ano fiz com o Renato Piau a música do Bloco na Rua, que homenageia Sérgio Sampaio e sai em Laranjeiras. E, com Roberto Serrão e Noca da Portela, fiz o samba do Bloco do Barbas, que homenageia Nelson Rodrigues Filho e sai em Botafogo — relata.
— No São João trabalho bastante, sempre com o forró. Nos últimos cinco anos me apresentei na Paraíba: em Sousa, Campina Grande e João Pessoa, e, no Rio de Janeiro, onde os festejos juninos vão até início de agosto. Este ano é que não fui para a Paraíba devido à mudança de rumo que está tomando musicalmente os festejos juninos de lá — expõe.
— Mas fiquei aqui com uma agenda cheia. Fiz shows em Macaé, Jacarepaguá e, na noite da São João, fui contratado para fazer o “Arraiá do Bola Preta” ,uma das mais tradicionais casas do Samba e do carnaval carioca. Além de ser contratado para tocar no Rio Scenarium e Carioca da Gema, tradicionais casas de samba da Lapa — diz.
Chico Salles tem parceiros sambistas e forrozeiros, e músicas em homenagens a outros artistas.
— Sambistas tem o Beto Moura, meu parceiro mais frequente, além de Noca da Portela e Roberto Serrão. No forró compus recentemente com Josildo Sá, Edu Krieger e Marcelo Caldi. Em rodas de samba, frequento o “Samba do Trabalhador”, do Moacyr Luz, que sempre me convida para cantar — relata.
— Dos meus sete CDs gravados, dois são de homenagens: um ao artista capixaba Sérgio Sampaio, e outro ao compositor pernambucano Rosil Cavalcante. Penso que no atual momento, de pobre inspiração da nossa música, tornam-se necessárias as regravações de excelentes canções do passado que não foram devidamente conhecidas no seu tempo — diz.
— Estou numa selva de pedra, cada dia um leão para matar. Não tenho pressa, mas não estou parado, tanto que vou lançar ainda este ano o CD Samba Nordestino, com canções autorais, inéditas, e releituras, gravado com uma base absolutamente regional, formado de sanfona, zabumba, triângulo, sete cordas e cavaquinho — conclui.
www.chicosalles.com.br é o contato do artista.