Enviamos ao jornal este breve relato da delegação do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de BH e Região (Marreta), Liga Operária e do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) que foi até Brumadinho após o criminoso rompimento da barragem do Feijão, da Vale, naquele município.
Márcio Fernandes de Oliveira, Estadão
Moradores de Brumadinho observam a destruição que atingiu a comunidade da Vila da Feterco
Fomos até as áreas atingidas, visitamos as casas de moradores, conversamos com trabalhadores e moradores locais em Brumadinho, próximo das instalações da Vale e no povoado do Córrego do Feijão.
Pelas ruas de Brumadinho, para além da dor e destruição causadas pela Vale e seus cúmplices dos governos, nos deparamos com pessoas tristes e apreensivas a procura de notícias de parentes ou conhecidos. O que se via é que os atingidos não podem contar com uma autoridade civil para dar solução às suas demandas. Há, sim, muitos policiais militares e civis e agentes à paisana, além daquelas pessoas claramente identificadas como “da Vale”.
Os bombeiros, em seu incessante trabalho de resgate, contam com o apoio e apreço da população.
A Vale, além de tentar monopolizar o atendimento médico e assistência psicossocial aos atingidos, vinha realizando o cadastro das famílias atingidas com a promessa de “indenização extrajudicial”. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denunciou o fato de a mineradora ter contratado a Sinergia, mesma empresa responsável pelo cadastramento de famílias atingidas pela barragem de Fundão em Mariana, para realizar esse trabalho em Brumadinho. A pedido das Defensorias Públicas da União e de Minas Gerais, o Ministério Público impediu que isso continuasse sendo feito.
No vilarejo do Córrego do Feijão percorremos casa por casa dos moradores distribuindo o boletim do Marreta e da Liga Operária.
Ouvimos denúncias e relatos contundentes, como o de um senhor que está acolhendo em sua casa as suas duas filhas que perderam seus maridos soterrados pela lama. Ele nos relatou que tudo o que tem recebido (desde comida a roupas) é fruto de doações. Foram tantas ações espontâneas de solidariedade das massas que os órgãos oficiais passaram a emitir comunicados dispensando doações e voluntários. De fato, a imediata mobilização das massas para doar alimentos, água potável, roupas e outros itens de primeira necessidade, além dos voluntários que se dirigiram a Brumadinho para prestar todo tipo de auxílio aos atingidos, é muito maior que as ações do velho Estado.
Moradores e trabalhadores que ouvimos nos relataram que desde abril do ano passado havia denúncias sobre a insegurança da barragem. Em novembro houve uma simulação na vila do Córrego do Feijão e uma senhora nos disse que, no momento da ruptura da barragem, quem correu para onde foi orientado durante a simulação morreu; os que decidiram seguir seus instintos e buscaram locais mais elevados sobreviveram.
Um casal de idosos nos recebeu diante de sua residência e repetiu aquilo que já haviam dito aos agentes da Vale que passaram antes por ali: “Daqui não saímos”. “Isto aqui é tudo o que temos e agora querem nos tirar daqui. Para onde vamos? A Vale tem que nos dar outra casa.”.
Operação ‘abafa’
Quando as primeiras imagens do rompimento da barragem foram divulgadas, a primeira manifestação nos monopólios foi de choque e indignação. Quando foram divulgados os detalhes das imagens que mostravam pessoas sendo engolidas pelo tsunami de lama e o resgate das primeiras vítimas, cresceu a cobrança por esclarecimentos e medidas para que isto não se repita. Passados poucos dias, o que vemos por parte do monopólio da imprensa é uma verdadeira operação “abafa” para livrar a Vale e seus diretores de responsabilidade criminal. Afora as campanhas publicitárias milionárias “lamentando” o ocorrido, os âncoras dos jornalões passaram a ponderar a “grande importância da Vale para a economia nacional” e a difícil retomada da rotina para os atingidos.
O sentimento de revolta contra a exploração mineral predatória e os crimes que se dão através dela têm tomado forma de protestos em todas as regiões do país. Somente em Minas Gerais, até o fechamento deste texto, oito explorações da Vale tiveram seus trabalhos interrompidos por determinações judiciais.
O povo clama por justiça. Uma senhora que perdeu muitos amigos e conhecidos nos disse: “não devia ter essas barragens, isso foi um crime, não foi por acaso. Eles sabiam! A Vale só quer dinheiro. Não se importa com trabalhador, pobre, com Brumadinho. Muitos trabalhadores daqui trabalhavam lá e foi uma perda muito grande. Essa Vale tinha era que sumir daqui e acabar!”.
A história de nosso país é marcada pelo roubo de nossas riquezas naturais e dos mais bárbaros crimes cometidos pelas classes dominantes contra o povo. É também uma história de contínua luta e revolta das massas. Toda a dor e sofrimento de nosso povo deve se converter em organização e revolta contra a exploração, opressão e a espoliação da pátria!