Meses antes e durante as eleições presidenciais de 2020 no Estados Unidos (USA), uma vitoriosa campanha de denúncia à ditadura da burguesia imperialista e de boicote à farsa eleitoral foi impulsionada. Dirigida pelos revolucionários estadunidenses e aderida por setores das massas proletárias do país, além de contar com a simpatia expressiva de um amplo setor de trabalhadores, a campanha manifestou a insatisfação e desilusão da grande massa do povo. Foram mais de 125 ações de propaganda e agitação pelo boicote eleitoral, incluindo pichações com as consignas Eleição não! Revolução sim! e Não vote, lute pela revolução!; confecção de faixas e distribuição de panfletos em cidades do país inteiro até o dia 3 de novembro, com outras mais sendo realizadas ainda após a data.
Cidades como Pittsburgh, Kansas City e Houston, apesar de não terem sido as únicas com mobilizações pelo boicote eleitoral, se destacaram pela quantidade de ações realizadas. Foram dezenas de faixas penduradas, sabotagens a prédios oficiais e a casas de candidatos e políticos dos partidos Democrata e Republicano; pichações em monumentos reacionários com consignas contra as eleições e ataques a escritórios de campanha. Também foram organizados diversos eventos pelo jornal da imprensa popular e democrática, o Tribune of The People (“Tribuna do Povo”).
A campanha pelo boicote eleitoral chegou a fazer manchetes nos principais meios de comunicação monopolistas, incluindo o The New York Times, CNN, USA Today e o Daily Mail.
Grande campanha pelo boicote eleitoral é realizada no USA. Foto: Tribune of the People.
Boicote eleitoral espontâneo
O próprio New York Times, diante do fato de que entre um terço e metade de todos os eleitores aptos a votar normalmente fica em casa durante as eleições presidenciais, lançou uma série de entrevistas em que o povo estadunidense expõe seus motivos para não ir votar. É o exemplo de Jennifer Martin, 46 anos, mãe solteira que aguardava em uma fila de um restaurante popular. Ela diz que, na última vez que votou, estava com aproximadamente 20 anos. “A política”, disse ela, referindo-se à política institucional, “tem pouca relevância para minha vida. Os dois partidos políticos parecem ser mais ou menos os mesmos”.
Um estudo recente descobriu que pessoas como a Jennifer, que rechaçam a velha política, têm preocupações maiores se comparadas àquelas que votam e ainda acreditam no velho sistema político. O estudo mostra que, enquanto os que não votam colocam os baixos salários por hora como um dos maiores problemas que o país enfrenta, por exemplo, os que ainda votam quase não mencionam o fato como sendo uma preocupação. Demonstra-se com isso que o problema está ligado à posição de classe: quanto mais proletária, mais espontaneamente desiludida a pessoa está com a velha democracia ianque.
A senhora Fedrick, outra entrevistada pelo monopólio de imprensa, diz que foi uma das que se absteve em 2016, mas não porque ela não estava acompanhando as notícias. Ela se irritou cada vez mais com o sistema político ianque, que acredita ser inimigo do povo preto, como ela, e também dos pobres.
Apenas 47% das pessoas pretas com menos de 30 anos votaram em 2016, número que demonstra a generalização desse sentimento de insatisfação narrado por Fedrick. Para ela, não há nenhuma evidência de progresso com as eleições: “O salário mínimo está congelado há mais de uma década e os problemas de violência policial contra os pretos, desemprego e encarceramento só pioram”. “Precisamos romper com o sistema. Este sistema não foi projetado para que ganhemos”, disse ela.
Uma análise dos dados da pesquisa do censo estadunidense sobre as eleições de 2016 mostra uma profunda divisão de classes: o número daqueles que não votaram é exponencialmente maior entre os pobres e aqueles sem diploma universitário, e também com menor probabilidade de estar empregados.
Os dados revelam serem esses os mais explorados, oprimidos e empobrecidos do país, sendo, portanto, aqueles que mais acumulam conhecimento sensível sobre a farsa eleitoral. Eles expressaram uma profunda desconfiança em relação à velha política e duvidaram que seu voto surtisse algum efeito.