Licenciando em música pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Unirio, neste ano, o músico multi-instrumentista carioca Pedro Fadel vê na pesquisa um caminho para transformações dentro de uma sociedade. Veterano na banda da Uerj, Ah! Banda, e engajado no estudo da etnomusicologia, o que mais lhe atrai. Pedro ainda encontra tempo para acompanhar outros artistas, participando de CDs e DVDs.
- Tenho uma relação muito forte com música desde pequeno, meus pais sempre gostaram muito e assim eu cresci em um ambiente musical. Meu pai ouvia muita música brasileira e música negra estadunidense, jazz, blues e soul, e ele tinha uma grande coleção de CDs que passou para mim. Explorei todos eles – conta Pedro.
- Minha mãe ouvia vários gêneros musicais e, entre eles, amava música portuguesa. Lembro-me que costumávamos gravar CDs em fitas k7 para ouvir no rádio do carro da minha mãe, e esses eram grandes momentos para mim na infância. Lá pelos meus 6 anos de idade comecei a aprender violão, e nessa época eu estava começando a gostar muito de rock, um gênero que me acompanhou por muitos anos – continua.
Quando cursava a quinta série do ensino fundamental, no Colégio de Aplicação da Uerj, Pedro ingressou em um projeto da escola chamado “Juventude, Prática Musical e Expressão – Vivendo e Criando Música Com Jovens”, também conhecido como “Ah! Banda”, e nesse momento a música começou a se tornar profissão e a pesquisa musical surgiu e ganhou um enorme espaço em sua vida.
Pedro Fadel no show "Rodrigo Torrero e Banda". Foto: Jorge Ribas.
- Entrei no projeto em 2008 e faço parte dele até hoje, inclusive fui bolsista até o fim de 2020. O projeto existe desde 2003, funciona como uma banda do colégio, que inclui dois núcleos: a banda dos mais novos e a banda dos mais velhos. É coordenado pela professora Ilana Linhales, que é uma grande referência para mim, uma pessoa que me ensina até hoje. Nesse projeto tive um espaço para tocar, e comecei a adquirir uma maior noção do fazer musical coletivo – expõe.
- Passei a lidar com o outro e aprender com o outro, e trabalhar no sentido de transformar as coisas coletivamente, lidando com o mundo através da música. A banda foi também o meu primeiro contato sistemático com pesquisa em música, porque não é um projeto que se encerra no universo sonoro, uma banda que ensaia e toca o seu repertório somente, temos um trabalho de pesquisa que leva a construção do repertório, e tudo feito de forma coletiva – continua.
- É um projeto de pesquisa feito pelos próprios alunos. Todos os anos decidimos um tema para o nosso projeto, por exemplo, em 2020 fizemos “Música e fluxos migratórios”, de maneira virtual por conta da pandemia. Já pesquisamos sobre mulheres compositoras brasileiras, do final do século 19 até os dias de hoje, já estudamos a música brasileira da primeira metade do século 20, anos depois nós estudamos a música brasileira da segunda metade do século 20. Além da música afro brasileira e a música nordestina – relata.
Artistas importantes da música brasileira também são estudados, por exemplo, Noel Rosa, Ah! Banda gravou um CD dedicado à obra do Noel.
- O repertório que apresentamos vem das pesquisas, e não somos somente estimulados a pesquisar as músicas do tema, mas também todo o universo social que permeia esse repertório. Assim, somos levados a estudar política, história, economia, enfim, o que for preciso para entender aquilo que nos propomos a tocar – continua.
- Tive e ainda tenho várias experiências com Ah! Banda, entre elas, gravei dois DVDs, participei de um tema com a responsabilidade de escrever a pesquisa e as partituras, o que virou o livro “Elas: canto porque o instante existe”, de minha autoria, que está disponível na internet. Atuei na banda como guitarrista, depois passei para o violão, cavaquinho, bouzouki, que é um instrumento grego. Não ficamos presos a um determinado instrumento – conta.
Pesquisar para conhecer e transformar
- A pesquisa em música é basicamente aquilo que mais me atrai e o que mais faço no momento. Trabalho com Etnomusicologia, uma área de estudo que se debruça sobre o fenômeno musical e outras formas de comunicação sonoras e não verbais, entendendo essas práticas como sócio-culturais e não como fenômenos sonoros abstratos – diz Pedro.
- A etnomusicologia se distancia um pouco de visões românticas sobre música, ideologias burguesas que veem a música como algo belo e abstrato, definição de não violência, música por música. Ela quer entender a prática social de como as pessoas fazem música e como isso se relaciona com o mundo concreto, material – explica.
Pedro conta que a etnomusicologia no Brasil, principalmente a que ele está inserido, já que são várias, é comprometida com a transformação social.
- Por ser um campo de estudo herdeiro da antropologia estadunidense e europeia, a etnomusicologia pode seguir uma esteira clássica da antropologia colonial, imperialista, de observação da cultura dos povos. Por exemplo, um pesquisador vai para algum país da África, estuda uma tribo, suga o conhecimento daquele povo e leva para o seu país onde ficará armazenado, sem se importar com aquele povo, com uma transformação social – argumenta.
- Mas a etnomusicologia no Brasil realizou um movimento muito contrário a esse tipo de prática, influenciada pelo marxismo, pela teoria crítica latino americana e a pedagogia crítica no país. Ela trabalha de maneira peculiar, engajada, comprometida politicamente com outro modelo de sociedade, pensando no que é importante para o grupo que está sendo estudado – continua.
- Não é o estudo de sociedades fazendo música para se criar um acervo que só uma classe média alta e pequenos burgueses terão acesso. Não é um trabalho de pesquisa que vai transferir esse conhecimento numa relação de transferência de valor entre capitalismo dependente e capitalismo central, transferindo o valor da periferia para o centro – continua.
Atualmente, Pedro faz parte de dois grupos de pesquisa em música, práticas musicais e pessoas, que são atrelados a Unirio. Além das pesquisas, realiza o trabalho de instrumentista.
- Há uns cinco anos toco violão 7 cordas de aço, meu instrumento principal, que é bem ligado ao universo do samba e do choro. Trabalho como músico acompanhante de alguns artistas e bandas, por exemplo, o cantor e compositor Rodrigo Torrero, meu amigo na universidade, e a banda Troá – conclui Pedro.
@fadelpedro é o contato do artista no Instagram