Profundamente afetados com as consequências da recessão e do abandono promovido pelo governo de Bolsonaro/generais, os trabalhadores informais e domésticas (grupo que reúne 41 milhões de pessoas) tiveram sua renda média ainda mais arrochadas. O grupo tinha, antes do início da pandemia, uma média salarial entre R$ 900 e R$ 1.700, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) contínua 2020-1, diminuída entre 33% até 65% ao longo do ano de 2020.
Os economistas burgueses estimam que a crise do capitalismo burocrático agravada pela pandemia retirou de circulação R$ 64 bilhões por mês. Ainda nesta perspectiva, a atual recessão poderia ter sido minimizada caso a renda desses trabalhadores informais tivesse mantido-se no patamar anterior ao mês de março (início da pandemia), “movimentando a economia”, em seus próprios termos.
O fato é que houve perda real da renda mensal. O auxílio emergencial do governo não deu conta de atender às necessidades dessas massas, que já estavam em um nível de pobreza no período pré-pandemia.
Charge Vitor M.
Em resposta à tentativa do governo de empurrá-las para a situação de miséria, essas massas foram obrigadas a retornar ao trabalho. Isso porque deixar de trabalhar significaria não ter condição de comprar alimento.
Um dado que ilustra justamente isso são os índices da alimentação. Pegando somente os da capital de Minas Gerais, Belo Horizonte, percebe-se o seguinte: nesse mês de novembro o preço da cesta básica – que é contado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA – e composto por 13 itens básicos na alimentação de uma pessoa no período de um mês, aumentou 25% em relação a um ano atrás, custando R$ 533,24. Em outubro, um mês antes, pela primeira vez foi registrado um valor acima de R$ 500 para a cesta básica.
Também em Belo Horizonte, o custo de vida (este índice é medido pelo IPCA amplo que acompanha a evolução dos preços de um conjunto de itens necessários às famílias de uma cidade que se encaixam na faixa de renda de 1 até 40 salários mínimos) aumentou 0,61%.
Transporte público e genocídio deliberado
Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), investigou os dados sobre as mortes em 96 distritos da capital paulistana. Baseando-se em informações sobre deslocamento pela cidade (tais como meios de transportes usados, profissão e tempo de viagem), a pesquisa formulou um coeficiente, que varia de 0 a 1, para quantificar a gravidade. Quanto mais próximo de 1 maior é o número de mortes como também o uso de transportes públicos usado para deslocar-se ao trabalho.
Naqueles bairros em que a forma de deslocamento principal é por transporte público ou a pé, o índice foi muito alto (0,80 e 0,78, respectivamente). Já nos bairros em que é utilizado principalmente veículos particulares o número foi de apenas 0,39.
O coordenador da pesquisa afirmou que o estudo confirma que são os trabalhadores os que mais estão morrendo, são as maiores vítimas do genocídio. A pesquisa ainda demonstrou que dos dez distritos de São Paulo com mais mortes pela Covid-19, nove lideram o número de viagens por transporte público.
Uma outra pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) traz as mesmas conclusões em relação ao deslocamento até o trabalho influenciar o contágio na capital paulista. O estudo mostra também que há uma diferença entre as profissões: enquanto algumas têm alto índice de relação com mortes pela doença, outras são quase totalmente poupadas.
Nessa pesquisa, também se formulou um coeficiente de 0a 1. As categorias dos “autônomos” (que inclui diaristas e camelôs) atingiram o índice 0,79. Donas de casa estão logo atrás, com 0,78. Já os “empregadores” têm uma taxa irrisória: 0,0079. Situação semelhante é a dos “profissionais liberais”, com grau de correlação de 0,0245.
A infecção dentro do transporte público afeta tanto os motoristas e funcionários das empresas do transporte público como aqueles trabalhadores que necessitam seguir buscando uma fonte de renda, seja pela carestia de vida, por não ter conseguido o extinto auxílio emergencial de R$ 600 (R$ 300 nos últimos meses) ou mesmo pela insuficiência desse em atender as necessidades básicas.
Desemprego e trabalho informal
A taxa de afastamento do trabalho entre os ocupados era de 18,1% em maio, início da pandemia. Essa é uma categoria que abarca aqueles que tinham renda fixa na pré-pandemia, mas que se afastaram nesse mês. Estes dados estão presentes na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD-Covid19.
Entre as ocupações que tiveram as taxas mais altas de afastamento do trabalho no início de maio estão vendedores ambulantes, feirantes, comerciantes de rua (que juntos representam 41%), empregadas domésticas (29%), cabeleireiros, manicures e afins (40%) e cuidadoras (28%).
Em comparação com agosto, com 5 meses de pandemia, a taxa caiu, indicando a necessidade de conseguir renda mensal para satisfazer as necessidades básicas, seja pelo motivo de ter o auxílio rejeitado pela burocracia do velho Estado ou porque ele é insuficiente.
A relação entre taxa de informalidade e retorno ao trabalho durante a pandemia indica que quanto mais informal é a ocupação, maior a taxa de retorno ao trabalho.