Em julho, o AND completa 20 anos desde sua fundação, em que persistiu numa Linha Editorial popular e democrática, em estrito combate a todo oportunismo, revisionismo e teorias anticientíficas que, em todos os setores da sociedade, pululam para dourar a pílula e justificar o atual estado de coisas, a exploração e a opressão.
![]() AND nº 8, abril de 2003 |
![]() AND nº 19, julho de 2004 |
![]() AND nº 10, junho de 2003 |
Manejando a ciência social mais poderosa, o AND destacou-se ao longo desses anos pela sua clareza e objetividade com que fustiga os inimigos de classe, além da presciência com que analisa os cenários possíveis da marcha real das coisas. Destacou-se, ainda, como um dos mais audazes veículos de imprensa da linha democrática e popular no que se refere às coberturas, reportagens e vídeo-reportagens durante e após operações policiais genocidas nas favelas ou protestos de todos os tipos, desde o início da década de 2010, e especialmente durante os grandes eventos de 2013, 2014 e 2016, particularmente no Rio de Janeiro.
Graças ao êxito em seu trabalho, AND foi por duas vezes alvo de sabotagens, na sede do seu comitê de apoio em Belo Horizonte – incendiado deliberadamente – e na sua redação, no Rio de Janeiro – quando um agente, passando-se por funcionário de companhia telefônica, cortou todos os fios de alimentação da rede de internet. Além de campanas, seguimentos e todo tipo de provocações estéreis promovidas por reacionários e elementos de extrema-direita organizados, fatos que ainda hoje acompanham o trabalho de AND.
‘O governo Lula é uma fraude!’
A presciência do AND se fez notar em alguns momentos específicos, os quais vale a pena rememorar.
![]() AND nº 112, junho de 2013 |
![]() AND nº 61, janeiro de 2010 |
![]() AND nº 128, abril de 2014 |
Em setembro de 2002, por exemplo, enquanto todas as siglas conhecidas da falsa esquerda oportunista eleitoreira chafurdaram na tal “frente popular” encabeçada pelo PT, crendo ali se abrir “um novo período” da história do país, este jornal previu que nada sairia do eventual governo de Luiz Inácio/PT: “Lula, líder das pesquisas até agora, vai do êxtase da passagem segura ao segundo turno, aos calafrios com a crescente perspectiva de sua quarta derrota eleitoral. E quanto mais se agacha para assumir posições cada vez mais reacionárias e pró-imperialistas, menor se torna. Está ridículo em seu papel de político grã-fino, cordato e de boas maneiras. Se para um primeiro turno seguro se abaixou tanto, não é difícil imaginar como se rastejará no segundo. Obviamente, tudo isto é celebrado nos círculos petistas e outros como ‘maturidade política’, ‘inteligência’, ‘maestria e esperteza’. Orgulhoso da aliança com o PL, do apoio de Quercia e Maluf, Lula deverá receber o beijo da morte de FHC, se este confirmar seu apoio a ele numa eventual disputa no segundo turno com o ex-governador do Ceará.”.
Em 2003, já em março, o AND fustigou implacavelmente o governo oportunista e todas as siglas revisionistas que em torno dele se juntaram: “Esse governo começa com uma grande aliança com o capital financeiro e, ao nomear o representante dos grandes capitalistas (Meirelles), passou para as mãos deles o setor de investimento.”. Em junho daquele ano, o AND cravou a seguinte manchete: O governo Lula é uma fraude!, custando-lhe hostilidade de toda a laia de oportunistas e seus chegados. No Editorial daquela edição, remarcou: “É inegável que ao poder não falta espaço para manobrar, simular prestígio e retocar imagens com programas de impacto. Por isso, é tido como imprudente acusar um governo que conseguiu reunir toda a oligarquia latifundiária e burocrática e tem o aval do imperialismo ianque e europeu. O povo, estarrecido, observa a traição. O sincretismo político-ideológico que formou a elite petista não é tão mecânico e imediato quanto aparenta. A elite petista não se converteu recentemente. Não foi há poucos dias que concluiu cursos nos institutos contrarrevolucionários dirigidos pelo imperialismo, como o Iadesil (Instituto Americano do Sindicalismo Livre), mas ela tem raízes profundas na ideologia e na política feudais, no capitalismo decadente do fascismo clássico e do fascismo sofisticado de nossos dias.”.
![]() AND nº 160, novembro de 2015 |
![]() AND nº 208, novembro de 2016 |
![]() AND nº 238, fevereiro de 2021 |
Mais tarde, em 2005, por ocasião dos escândalos de corrupção que estouraram no governo petista (o famigerado “mensalão”), o AND destacou que, de todos os problemas, este era apenas uma expressão e menos importante, se comparado com os ataques aos direitos do povo promovidos pelo PT. “Quem se alia ao sistema, se propõe a administrá-lo – a exemplo do cartel oportunista que (também) dirige o PT –, obrigatória e necessariamente será corrupto. Não há outra forma de manter partidos eleitoreiros e o que eles têm a coragem de chamar de administração pública.”.
‘Em marcha golpe militar preventivo’
Após os grandes levantes populares de 2013-2014, o AND analisou que se abrira um novo ciclo da luta de classes como situação revolucionária em desenvolvimento, que convergia com uma grave crise de legitimidade e desmoralização do aparelho de Estado, assim como uma perigosa recessão da crise geral de decomposição do capitalismo burocrático.
No Editorial As vestais do velho Estado, de setembro de 2017, AND denunciou já a planificação de um golpe de Estado, enquanto todas as forças oportunistas escaramuçavam-se em torno da farsa eleitoral que só chancelaria o que os generais conquistassem com seu manejo. Em tal Editorial afirmou-se:
![]() AND nº 166, março de 2016 |
![]() AND nº 179, novembro de 2016 |
![]() AND nº 194, agosto de 2017 |
“Nenhuma reforma política possível de ser aprovada neste congresso poderá salvá-lo de sua bancarrota, tampouco a intervenção militar que se planifica como saída última do imperialismo[...]” (nesta e nas seguintes citações os negritos são nossos).
Um mês depois, AND aprofundou sua denúncia. Sistematizou-se a situação de golpe militar como crise militar devido ao desenvolvimento de alguns fatos através dos quais pôde-se, conhecendo a história de nosso país como as leis da sociedade brasileira, fazer a análise concreta da situação concreta e fazer previsões científicas mais profundas.
O Editorial Crise militar e a completa falência das instituições, afirmou: “[…] as declarações do general Mourão a respeito de uma possível intervenção militar [...] mostram que [...] as declarações são expressão de uma vontade das cúpulas e setores das Forças Armadas. A confirmar esta constatação, temos a leniente reação do ministro da Defesa e do comandante do Exército para não falar do alheamento de Temer.”. E, aprofundando a denúncia do próprio conteúdo do golpe militar, afirmou: “[…] o que se coloca é uma intervenção militar para efetuar uma assepsia nas instituições.”.
Na primeira quinzena de março de 2018, quando as condições já permitiam, o Editorial de AND 205 estampava: Intervenção militar e golpe de Estado. A denúncia, mais robusta, foi assim desenvolvida: “O decreto federal de intervenção militar no Rio de Janeiro [...] é um passo a mais na direção do golpe de Estado militar contrarrevolucionário preventivo a uma futura e inevitável insurgência popular que já atormenta o eixo Washington-Brasília.”.
![]() AND nº 244, setembro de 2021 |
![]() AND nº 194, agosto de 2017 |
![]() AND nº 237, dezembro de 2020 |
E prossegue, apontando a relação da Operação “Lava Jato” com toda a situação: “Desde o início da Operação ‘Lava Jato’ temos afirmado a ação de uma ‘mão oculta’ manejando a campanha anticorrupção, no objetivo imediato de limpar a fachada das principais instituições do Estado, desgastadas e desmoralizadas na opinião popular, e salvar seu sistema do rechaço completo pelo povo, como a crescente abstenção eleitoral (além dos votos nulos e brancos) atesta, transformando-se em subversão aberta. Tal manejo operado pelo Ministério Público e Judiciário, secretamente centralizado por determinada seção do ACFA, é inspirado pela Embaixada ianque e conta com as trombetas da Rede Globo.”.
Na edição seguinte, da segunda quinzena de março de 2018, AND apontou o caráter gradual e ampliado do golpe, isto é, seu modo de operar diferente de 1964. “Os militares vieram trabalhando em silêncio a intervenção militar planificada, a qual continuará a ser ampliada até que surjam as circunstâncias [...] convenientes para se consumar o completo golpe de Estado”, expôs o Editorial O golpe militar e a intervenção militar ampliada. Nesse mesmo Editorial afirmou-se também, tal como fica plenamente evidente somente hoje para boa parte do oportunismo, que a situação correspondia a “um Plano do Estado Maior”.
Na edição 208, em abril de 2018 (momento no qual o oportunismo não levantou sequer sussurros em protesto contra a tutela e intromissão dos generais na eleição) AND assim denunciou em sua capa: Em marcha golpe de Estado contrarrevolucionário!, constando na foto uma reunião do Alto Comando do Exército.
O Editorial dessa edição afirmou: “Chegado a um estágio tal de inevitável putrefação, a luz vermelha do establishment acendeu-se frente ao descrédito e falta de legitimidade [...] Nesse contexto, a Operação ‘Lava Jato’ foi lançada para fazer uma assepsia geral nas instituições do velho Estado por salvar seu sistema de exploração decantado como ‘Estado Democrático de Direito’ [...] Porém saiu do controle, dada a gravidade da crise estrutural desse capitalismo burocrático vigente, atingindo todas as esferas da política oficial, agudizando ainda mais a luta pelo controle da máquina de Estado entre seus grupos de poder.”.
E mais: “Mirando o fracasso da operação de limpeza nas aparências das carcomidas instituições desta velha ordem burguesa semicolonial e semifeudal [...], os reacionários põem em marcha o seu golpe de Estado contrarrevolucionário preventivo à inevitável e violenta rebelião das massas frente ao incremento da exploração, desigualdades e opressão levado a cabo por este sistema e seu velho Estado. Tal como a intervenção militar golpista, as labaredas da rebelião popular se alastrarão por todo o país. Quem viver verá!”.
A essa altura, na luta política com diversas forças que atuam nos movimentos populares, não era incomum aos que difundiam o AND ouvir rejeições ou reclamos, dizendo tratar-se de anacronismo, ou de “teoria da conspiração”. Os fatos falaram por si.
Depois, já com a eleição e posse da chapa Bolsonaro/Mourão, conformada como uma imposição deste como vice-presidente (assim analisou AND), este órgão evidenciou a tutela exercida pelos generais enquanto alguns apenas viam convergência entre eles.
O Editorial Quem governa o país, entre fevereiro e março de 2019, assim afirma: “Os meses seguintes tratarão de deixar patente que Bolsonaro só pode desempenhar o papel de máscara de proa, e ainda assim, até onde e enquanto for útil [ao ACFA]”. E prossegue: “O general Mourão das declarações na Maçonaria […] repentinamente deu lugar a um Mourão moderado e comedido. Tal transmutação só cabe ser concebida como produto de importante orientação, ou melhor, de uma ordem. […] O golpe militar contrarrevolucionário preventivo foi desatado bem antes do processo eleitoral, se instalando neste governo (que não foi de sua escolha) como produto das circunstâncias […] sufragado nas urnas da farsa eleitoral”, assim arrematou esse Editorial, um dos primeiros após a posse da chapa.
Durante a pandemia, o AND (edição 232, março de 2020) fez um correto diagnóstico, já nos primeiros sinais, de que a atitude de Bolsonaro seria “difundir que o isolamento social não passa de uma conspiração para paralisar a economia e derrubá-lo a custo da miséria da população. Aceno este que visa acumular forças e capital político, como o ‘perseguido’ e ‘injustiçado’, e conseguir maior poder de pressão sobre os generais, quando a situação da nação desembocar na desordem inevitável.”. E assim foi, produzindo um genocídio que ceifou a vida de 670 mil brasileiros e brasileiras, com fins políticos perversos e omissão deliberada.
Um compromisso com as massas
Nesses 20 anos, o AND tem perseverado em combates contínuos por servir às massas de todo o coração através de municiá-las com a denúncia mais implacável contra os reacionários e as classes dominantes locais, assim como com a propaganda mais viva da causa do povo; essa, que é “uma obra em si ainda inofensiva e pequena, mas regular e comum no pleno sentido da palavra” (Lenin). AND tem persistido por se temperar e fortalecer-se para continuá-las servindo, sejam quais forem as dificuldades e circunstâncias.
Por ocasião do seu 20º aniversário de fundação, uma vez mais, o AND reafirma esse seu compromisso.