O Brasil tem hoje o maior contingente de pessoas em idade de trabalhar de sua história. São mais de 107,9 milhões de brasileiros nesta condição. Contudo, a cada mês que se passa, emprega-se menos do que há doze meses. A baixa geração de emprego une-se à corrosão salarial pela inflação e pela baixa nominal dos salários. Uma parcela dos “desempregados da pandemia”, hoje, são re-empregados, porém ganhando menos e, portanto, sendo mais explorados. A alta geral dos preços é o terceiro elemento que, unido aos demais, compõem o cenário dantesco do Brasil de 2022.
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Milhões de brasileiros desempregados, esfomeados e endividados são vítimas do capitalismo burocrático
Entre fevereiro e abril deste ano, o número de empregos subiu. Gerou-se em março 136.189 empregos. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior vê-se uma queda de 11,23% (saldo negativo de 17.242 empregos a menos). Entre janeiro e março foram abertas 615.173 vagas com carteira assinada. Em comparação ao mesmo trimestre de 2021, houve uma redução de 23,59% (saldo de menos 189.988 empregos). Estes dados indicam que há um ano, quando o índice diário de mortes por Covid-19 era de 2 mil, a capacidade de empregar era maior do que em 2022. O antipovo ministro do Trabalho e Previdência, José Carlos Oliveira, falou que, apesar disso, “temos que comemorar”. Condizente com a atitude do governo militar genocida de Bolsonaro e generais de banalizar a matança.
Nos três primeiros meses do ano, a maior parte dos empregos gerados foi na área de serviço (quase 4 vezes mais do que a indústria e 4,3 vezes mais do que a construção civil). A explicação para o crescimento está no fim de quase todas as restrições causadas pela pandemia do novo coronavírus (Sars-Covid-19) e o aumento da procura por serviços em geral (lojas, restaurantes, eventos, festas, turismo, etc.).
Tais empregos não são, nem poderiam ser, indicativos de uma “recuperação econômica” do carcomido capitalismo burocrático brasileiro. Comprovação: a indústria praticamente estagnou em nível de contratação (crescimento de 0,1%). Investimentos produtivos caíram em 3,5% em relação ao trimestre anterior. O saldo total de empregos gerados (admissões - demissões) do setor de Comércios e de Serviços foi de 146.268, já o da Indústria geral foi de 26.378. A cada 11 empregos na área de Comércios ou Serviços, gerou-se apenas 2 empregos na indústria.
Entre a estimativa de emprego, o Brasil aparece na 9ª pior posição. A lista feita pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que a média global de desemprego tende a ser de 7,7%, estando o Brasil muito acima da média dos “países emergentes” de 19 países do G20.
Salários despencando
Desde o início deste ano, o salário do brasileiro vem caindo. Em fevereiro o valor médio foi de R$ 1.910,89, enquanto em março foi de R$ 1.872,07. Na comparação com um ano, entre fevereiro de 2021 até este mesmo mês do atual ano, o rendimento real dos que trabalham caiu 8,8%. 106 milhões de brasileiros vivem com até R$ 13,83 por dia. A metade mais pobre da população (totalizando 106,35 milhões de brasileiros) vive com R$ 415 por mes. E mais da metade (62%) têm renda familiar de até R$ 3.850 por mês, somando a renda de todos.
Uma razão para a corrosão é a inflação e outra razão é a não manutenção do salário do trabalhador no mesmo nível pré-pandemia. O fim do estímulo do governo em manter o nível salarial resultará das duas, uma: ou aumentará o desemprego ou o salário do trabalhador vai diminuir. É isto que ocorrerá ao longo deste ano por conta do encerramento de programas do governo federal utilizados para complementar parte do salário de um trabalhador que viu-se obrigado a aceitar a redução de 50% de seu salário durante a pandemia.
Inflação acima de 10%
Em abril deste ano, o povo brasileiro sentiu o maior aumento de preços desde 1995 (1,73% em relação a março). Nos últimos 12 meses, a inflação já ultrapassou os dois dígitos: no período maio-2021 e maio-2022, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 11,73%. O índice é a prévia da inflação oficial.
Desde produtos até serviços básicos necessários para o trabalhador, a alta geral é sentida. Dos nove grupos divididos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas um não apresentou alta: Habitação. Todos os demais (Alimentação e bebidas, Artigos de residência, Vestuário, Transportes, Saúde e cuidados pessoais, Despesas pessoais, Educação e Comunicação) aumentaram.
O grupo que mais subiu foi Vestuário, seguido por Transportes, este último impulsionado pelo aumento do preço do diesel e também pela máfia dos transportes públicos, cujas empresas são agraciadas por isenções fiscais. Em Minas Gerais, por exemplo, o governo reacionário de Zema (Novo) aumentou a tarifa mesmo com isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos (ICMS) sobre o diesel de R$ 137 milhões. Casos semelhantes ocorrem país afora, aumentando a massa de lucro dos empresários de transportes “públicos” às custas do aniquilamento do salário do povo trabalhador.
Mais da metade do salário em comida
A alta dos alimentos sentida por trabalhadores de todas as regiões do país também foi registrada. Trata-se da maior atrocidade proporcionada pelo velho Estado latifundiário-burocrático em que, sendo o segundo maior exportador de alimentos do mundo, impõe ao seu povo uma profunda crise de fome.
A alta no índice registrado oficialmente pelo IBGE, contudo, esconde a gravidade da situação: os produtos da cesta básica cresceram acima da taxa registrada em abril em relação ao mês anterior (de 2,06%). Na verdade, aquilo que o índice oficioso esconde é que o preço de tudo sobe, porém os produtos mais básicos sobem ainda mais, elevando a fome, a miséria e o endividamento para comprar alimento.
Em 2020, eram 19 milhões os brasileiros que estavam em estado de insegurança alimentar grave (termo utilizado por pesquisadores para se referir à fome). Agora, esse número saltou para mais de 33 milhões no início de 2022, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).
Se aproxima de 80% a proporção das famílias brasileiras endividadas. As compras por cartão de crédito são o motivo de 87% dos endividamentos. Do total das compras no crédito, 7 em cada 10 são para necessidades básicas, como alimentos e supermercados. Os dados são de dezembro de 2021 e foram divulgados pela Pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor (Peic).
Sobre os itens da cesta básica, eles aumentaram até 117% entre abril do ano passado e o deste ano. Somente para comprar uma cesta básica, o trabalhador tem que gastar entre 43% e 64% de um salário mínimo, a depender do preço. A cidade que apresenta a cesta básica mais cara do país (R$ 777,93), São Paulo, foi a base para um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em que foi calculado quanto deveria ser o salário mínimo para suprir a totalidade das despesas de uma família operária, incluindo alimentação, moradia, educação, saúde, vestuário higiene, transporte, lazer e previdência. O valor indicado foi de R$ 6.535,40, mais de cinco vezes maior que o atual salário mínimo de fome.