Após a espetacular derrubada de um helicóptero da PM, mais de quarenta pessoas morreram no mais recente episódio do conflito entre quadrilhas de criminosos, incluindo a polícia de Cabral, uma das partes mais podres de um Estado em decomposição. Após a disputa, os inimigos do povo repousam sossegados, enquanto nas favelas como os morros dos Macacos, São João, Matriz e Jacarezinho, trabalhadores vivem sob intenso regime de terror disseminado pela PM, que impõe revistas vexatórias, toques de recolher, agressões, torturas e assassinatos. É a ordem do dia do Estado policial, um cotidiano de criminalização e extermínio da pobreza, planejando, dia após dia, novos e maiores massacres, com o falso pretexto de vencer a falsa guerra.

Helicóptero da Polícia Militar abatido por traficantes do Morro do Macaco
Pela sexta vez em dez anos, traficantes varejistas do Rio de Janeiro, entraram em confronto no morro dos Macacos, pelo controle das "bocas de fumo" da região. Ao fim dos tiroteios e nos dias seguintes, mais de quarenta corpos foram contabilizados, entre eles, três jovens trabalhadores. Ainda não se sabe quantas e quais mortes são de responsabilidade da polícia, que ao intervir no confronto, teve um de seus helicópteros abatido por traficantes. Três policiais morreram em consequência da queda da aeronave.
Para chamar a atenção e pedir socorro, ônibus e pneus foram queimados nas ruas de Vila Isabel por moradores da favela, temerosos com o ininterrupto som das rajadas de fuzil que interrompeu a rotina de centenas de trabalhadores no retorno para casa. De acordo com o presidente da Associação de Moradores do Parque Vila Isabel, Mário Lima, dez dias após os confrontos, 60% dos moradores deixaram o morro com medo de novos tiroteios e da intimidadora presença da PM.
— A polícia que estava na entrada da comunidade, que era do Choque e faz a ronda da comunidade, nos tratou com deboche, ironias, da pior forma possível. Os boatos que correm na comunidade, e já ouvi isso de vários moradores, dão conta de que um caveirão [carro blindado] da PM dava apoio ao pessoal que invadiu. É uma história que precisa ser averiguada pela polícia — denunciou Mário, completando que a favela está sem luz há mais de uma semana.
Entre os mortos na noite da invasão do morro foram identificados o auxiliar administrativo Leonardo Fernandes Paulino, de 27 anos, o mecânico Marcelo da Costa Ferreira Gomes, de 26 anos, e o ajudante de pedreiro Francisco Ailton Vieira, de 25 anos. Os jovens moravam no Morro dos Macacos e voltavam de uma festa na companhia do único sobrevivente — Francisco Halaíltom Vieira, de 23 anos — ainda internado na UTI do hospital do Andaraí.
Fazendo coro com as fontes "oficiais", no dia seguinte, os três rapazes tiveram seus rostos estampados nas páginas dos jornais do monopólio da imprensa como "traficantes mortos na disputa pelas bocas de fumo".
— Taxado como bandido? Jamais! Eram pobres, mas não precisavam dessa vida — disse a mãe de Francisco Aílton e Francisco Halaílton, Maria Luíza da Silva, no enterro do filho mais velho.
Morre quem atira
O cabo da PM Izo Gomes Patrício recebeu honras militares em seu funeral enquanto os três jovens eram enterrados com o sentido protesto dos seus parentes e amigos.
Os militares abatidos no morro dos Macacos foram rapidamente convertidos em heróis de grande bravura e rara perícia. Assim, o monopólio da comunicação seguindo a linha imposta pelas classes reacionárias tenta encobrir com um manto de sangue do povo o que fazem esses carrascos quando sobrevoam os morros descarregando chuvas de bala indiscriminadamente sobre as casas.
Basta recordar das imagens grotescas mostradas pela TV Globo em 17 de outubro de 2007, quando com uma tétrica narração era documentada uma operação policial na favela da Coréia, que deixou ao menos 12 pessoas mortas. As filmagens mostravam dois homens, visivelmente desarmados, sendo caçados por um helicóptero da polícia como em um safári. Desesperados, os supostos criminosos despencavam barranco abaixo, correndo de um dilúvio de tiros disparados da aeronave policial. Ao fim da perseguição, os dois foram mortos.
O "11 de setembro" de Beltrame
Além do Morro dos Macacos (em Vila Isabel), outras favelas foram invadidas e ocupadas pela Polícia. Durante toda a semana seguinte, as forças de repressão nominaram "mentores" para o ataque ao helicóptero, especularam "ordens vindas dos presídios de segurança máxima", revelaram gravações de conversas entre traficantes e contrabandistas de armas. Se sabiam mesmo de tudo, como tentam dar mostras, por que foram surpreendidos?
O Secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame já armou o seu embuste: "Foi o nosso 11 de setembro". Todos sabem muito bem o que ocorreu no Afeganistão após o genocida Bush ter o seu "11 de setembro" em 2001.
Tal evento, há poucos dias da definição do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016, soa como a senha para "limpeza" dos bairros pobres prometida pelos gerentes Luiz Inácio, Paes e Cabral como condição para a realização dos jogos com "segurança".
Novos e grandes massacres estão sendo preparados pelo velho Estado contra o povo pobre do Rio de Janeiro.
Casa de rico, limpa
Casa de pobre, suja
Depois que Cabral ocupou quatro favelas da Barra e zona Sul — regiões nobres do Rio — com as UPPs (Unidades de polícia "pacificadora"), quadrilhas de criminosos que dirigiam o tráfico nessas comunidades migraram para a zona Norte e Baixada Fluminense — parte pobre do Rio de Janeiro. Com isso, acirram-se, cada dia mais os conflitos entre traficantes varejistas por bocas de fumo em favelas do subúrbio da cidade, como o Complexo da Maré, onde, de acordo com ONGs, mais de 40 pessoas já foram mortas desde outubro de 2008. Como disse Beltrame, "um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra. E aí?".
E aí, que enquanto quadrilhas de traficantes e gerentes de turno, como Cabral, mantêm-se intocadas, as massas arriscam suas vidas, num cotidiano cada dia mais miserável. Em 2009, conflitos como o do Morro dos Macacos nos dias 15 e 16 de outubro, já aconteceram nas favelas do Juramento, do Palácio e da Ladeira dos Tabajaras, deixando quase 100 pessoas mortas, entre policiais, traficantes varejistas e trabalhadores pobres.
Menos de 24 horas após a queda do helicóptero, Luiz Inácio anunciou um investimento de 100 milhões de reais nas polícias de Cabral, para incrementar o massacre contra o povo e trazer "segurança" ao Rio para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, com os quais as massas contribuirão apenas com seu sangue e seu suor.
O dia-a-dia do genocídio
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A abominável PM de Cabral
O povo pobre do Rio de Janeiro já está habituado a presenciar cenas de desmedida violência e corrupção praticadas pela PM, principalmente nas favelas do subúrbio da cidade. Em poucos casos, a brutalidade dos agentes de repressão deste Estado permite flagrantes da obscuridade e da psicopatia de quem é treinado apenas para matar, roubar e oprimir as massas, como aconteceu na madrugada do dia 18 de outubro. Na ocasião, o coordenador de projetos sociais do grupo Afroreggae, Evandro João da Silva, de 42 anos, caminhava pelas ruas do Centro da cidade, quando foi abordado por ladrões, que o balearam, roubaram sua jaqueta, seus sapatos e fugiram.
Dois dias depois, o monopólio dos meios de comunicação exibiu repetidas vezes as imagens da câmera de segurança de um dos edifícios por onde os ladrões passaram. A filmagem mostrava os criminosos sendo interceptados por PMs, ainda ao lado do corpo de Evandro. Ao invés de prendê-los, os policiais se apoderaram dos pertences da vítima, liberaram os criminosos e foram embora, ignorando a agonia de uma pessoa ferida a poucos metros de distância.
Evandro morreu antes de chegar ao hospital e, três dias depois, o cabo Marco de Oliveira Salles e o capitão Denis Leonard Bizarro foram presos administrativamente por meras 72 horas.
Vale lembrar que no dia 6 de novembro, acontecerá o novo julgamento de 41 oficiais da PM acusados de envolvimento com a máfia do jogo do bicho, entre eles o atual chefe administrativo do Estado-maior, coronel Carlos Eduardo Millan Guimarães.
O primeiro julgamento aconteceu há 11 anos e apenas 21 dos 45 réus foram condenados, porém a sentença foi anulada. Outros dois acusados de terem seus nomes citados na lista de propinas encontrada na fortaleza do bicheiro Castor de Andrade, em Bangú, foram o ex-chefe de polícia civil e atual deputado estadual, Álvaro Lins e o coronel Gentil Pitta Lopes, irmão do também coronel, Gilson Pitta Lopes, ex-comandante geral da PM.
Fatos como esses, mostram o poder hierárquico que as mais inescrupulosas figuras da polícia, são capazes de atingir neste Estado em decomposição, que tem como únicas metas incorruptíveis, atirar para matar, roubar e oprimir ao máximo as massas trabalhadoras.