Maioria de moradores de favelas brasileiras dependem de doações para se alimentar, segundo pesquisa. Foto: Reprodução.
A pandemia do novo Coronavírus aumentou o desemprego e agravou a fome. Neste cenário foi na favela que esse tormento mais apareceu. Uma nova pesquisa realizada pelo Instituto Data Favela revelou que 68% dos moradores de comunidades não tiveram dinheiro para comprar comida em pelo menos um dia nas duas semanas anteriores ao levantamento. Além disso, 82% da população dessas áreas está dependendo de doações para alimentar a família.
Com a intenção de medir o impacto da Covid-19 entre a parcela mais pobre da população, o levantamento mostrou também que o número de refeições diárias vem caindo: em agosto do ano passado, a média era de 2,4; em fevereiro foi para 1,9.
“Os dados são hoje os mais preocupantes desde o início da pandemia. Nós monitoramos, durante o último ano, praticamente todos os meses a situação das favelas e, em nenhuma das pesquisas, o dado foi tão preocupante como esse, seja no número de pessoas sem poupança, seja no número de pessoas com falta de dinheiro para comprar comida, seja na redução do número de refeições”, afirmou o presidente do Instituto Locomotiva e Fundador do Data Favela, Renato Meirelles.
O presidente do Instituto também destaca que "O principal impacto é na geração de renda. Como tem um grupo grande de trabalhadores informais, e você teve uma dificuldade no período inicial de chegar o auxílio emergencial lá dentro, o impacto na renda foi gigantesco, e isso trouxe a fome. Mas a fome é consequência da ausência de renda”.
Mais de 2 mil pessoas, moradoras de 76 favelas em todo país, foram entrevistadas para a pesquisa, que se deu entre 9 e 11 de fevereiro. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.
A pesquisa revelou também que 71% das famílias estão sobrevivendo com menos da metade da renda que obtinham antes da pandemia e 93% desses moradores não tinham ou não tem nenhum dinheiro guardado.
De acordo com a pesquisa, nove em cada dez moradores de favelas, receberam doações de alimentos durante a pandemia e oito em cada dez famílias não conseguiriam se alimentar se não tivessem recebido tais doações. Outro fato observado pelo pesquisador e que foi fundamental para que as famílias não passassem mais fome, foi o alto espírito de solidariedade dos trabalhadores, membros do proletariado, semiproletariado e da pequena burguesia pauperizada da favela. “É muito comum nas pesquisas ouvir a frase: na favela se o seu vizinho tem comida, ninguém passa fome. No sentido de que eles dividem o pouco que têm, mostrando uma solidariedade impressionante nesse cenário”, observou Renato.
Com tudo isto, se torna fundamental o reestabelecimento do auxílio emergencial, para que essas pessoas não morram de fome e não tenham que se expor ao vírus, como expõe Renato: “Com o agravamento da crise sanitária e com os recordes de contaminação, nunca foi tão importante o reestabelecimento imediato do auxílio emergencial. São brasileiros que foram obrigados, desde o início da pandemia, a ter que escolher entre o prato de comida ou a proteção da saúde da sua família”.
O pesquisador destaca também, que enquanto este auxílio não é aprovado, as pessoas que moram em periferias seguem sendo as maiores vítimas da Covid-19. “Não é à toa que a maior parte das pesquisas sobre a infecção mostra que o número de contágio na favela é, em geral, o dobro quando comparada às regiões mais nobres”, destacou.