Barricada com fogo é levantada em meio a protesto contra despejo de indígenas no sul da Bahia. Foto: Aldeia Novos Guerreiros
No dia 31 de agosto, cerca de 250 indígenas realizaram um protesto que interditou parte da BR-367 em Porto Seguro, sul da Bahia. O ato ocorreu em resposta à derrubada de casas e cabanas pertencentes às comunidades da Terra Indígena (TI) Ponta Grande. A derrubada, orquestrada pela Prefeitura Municipal de Porto Seguro, contou com o apoio de agentes da Polícia Federal, Polícia Militar e Guarda Municipal.
Ao todo, oito cabanas de praia e outros estabelecimentos comerciais foram demolidos por tratores. Segundo a representante dos comerciantes locais, Thyara Pataxó, os indígenas sequer foram notificados formalmente: “Começaram derrubando de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália. Uma ação deliberada pelo prefeito Jânio Natal [PODE], que notificou pelas redes sociais que iria fazer essa ação, mas não notificou nossos caciques e lideranças. Hoje [31/08] cumpriram o que disseram, que iriam tirar os indígenas da beira da pista”, declarou em entrevista ao monopólio de imprensa G1.
Policiais rodam as casas antes da destruição ordenada pela prefeitura. Foto: Aldeia Novos Guerreiros
Diante tamanha injustiça, os indígenas bloquearam a rodovia com madeiras, pedras e outros objetos e mesmo sofrendo ameaças dos policiais, recusaram-se a deixar o local. Ainda de acordo com Thyara, entre as 250 pessoas que participaram do ato, um cacique e uma jovem da comunidade foram agredidos e três indígenas foram detidos pela Polícia.
Ritos culturais são realizados durante fechamento da BR-367. Foto: Aldeia Novos Guerreiros
Guerreiro segura arco e flecha durante manifestação. Foto: Aldeia Novos Guerreiros
Em um vídeo que circula na internet, o presidente do Conselho de Caciques Pataxó, Cacique Shyrathan, demarca o posicionamento de firmeza dos povos indígenas: “não queremos ser mais desrespeitados! Estamos aqui com vários caciques e ficaremos até conseguir a demarcação de nosso território!”.
No dia seguinte um novo protesto ocorreu também na BR-367, na altura do quilômetro (km) e contou desta vez com cerca de 300 indígenas. “O cenário que estamos vivendo aqui é de guerra”, declarou o cacique Shyrathan.
Outro protesto ocorreu também no dia 01/09 no mesmo local. Foto: João Payayá
A revelia das próprias regras, velho estado segue atacando povos originários
A ação da Prefeitura, além de ir contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que suspendeu “reintegrações de posse” durante a pandemia, excedeu a ordem emitida pelo Ministério Público Federal (MPF) que consistia tão somente na apuração de “infrações decorrentes do avanço de construções irregulares em áreas tombadas da União, na Praia do Mutá”.