Este ano de 2021 encerra-se com uma importante conquista indígena brasileira, impensável pouco tempo atrás. Impensável e até surpreendente em meio à perseguição e aos ataques por parte do velho Estado, gerenciado pelo miliciano fascista Jair Bolsonaro e seus militares. Trata-se de uma escola, de âmbito nacional e internacional, onde os professores são índios ou pessoas com fortes laços com os povos das aldeias. E os aprendizes são brancos/não-indígenas, em sua maioria.
Uma “inversão” que, de algum modo, faz lembrar as divertidas palavras do poeta Oswald de Andrade: “Quando o português chegou/Debaixo de uma bruta chuva/ Vestiu o índio/Que pena!/Fosse uma manhã de sol/O índio tinha despido o português.”(*)
A combativa e inovadora entidade escolar se chama CISA (Cultura Indígena em Sala de Aula), realizou 15 mini-cursos completos neste primeiro ano de funcionamento e deu certificados a 214 estudantes. “Tivemos alunos (maior parte não-indígenas) de diversos estados do Brasil, e também dos EUA e Holanda”, informa Felipe Bernardo Messias, morador de Criciuma/SC, indigenista e graduando em Antropologia na Uniasselvi. Felipe foi o idealizador da CISA, junto com um grupo de apoiadores índios.
Cada curso, no formato on-line, teve 4 horas de duração e iniciou sempre às 19 horas.
OS TRANSFORMADORES
“A CISA é uma Escola Virtual especializada em Língua e Cultura Indígena para interessados em aprender a respeito dos Povos Originários do Brasil”, explica a página dela, na internet, ao responder a própria pergunta “Quem Somos”.
“Nossa missão é fortalecer educadores e educandos para transformar a Educação brasileira e possibilitar que os alunos desenvolvam o máximo do seu potencial na diversidade étnica e racial brasileira, conforme exige a Lei nº 11.645 de 2008, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Indígena”.
“(Nossos) cursos (servem) para capacitação e aperfeiçoamento de estudantes, professores, pesquisadores e demais interessados em agregar o universo dos Povos Originários como História, Mitos e Ritos, Terras e Territórios, Pensamento, Matemáticas, Artes, Tecnologias de Preservação do Meio Ambiente, entre outros.”
OS MESTRES
As aulas/cursos da CISA foram ministradas por:
- Joziléia Daniza Kaingang (antropóloga formada na UFSC)
- Ingrid Sateré Mawé (bióloga formada pela UFAM, professora da rede pública em SC, diretora de conteúdo indígena da revista Inspiração Teen)
- Júlio Queiroz (vice-pajé Rawanã Kariri-Xocó)
- Eunice Kerexu Yxapyry (liderança guarani em SC, coordenadora da Comissão Yvyrupá, coordenadora da APIB/Associação Povos Indígenas do Brasil, formada em Licenciatura Indígena e em Gestão Ambiental na UFSC)
- Nuno Nunes (filósofo, indigenista, doutorando em Planejamento Territorial na Universidade Estadual de SC/UDESC)
- Cris Tupan (assistente social formado na Universidade Est. de Londrina, PR/ UEL, doutorando em Serviço Social na UFSC)
- Adriana Fernandes Carajá (pajé dos Kariri-Sapuyá da BA, enfermeira formada na Universidade de Alfenas/MG, mestrada em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência na UFMG, doutoranda em Antropologia na UFMG)
- Idiane Cruz da Silva (liderança e ativista do povo Kariri-Xocó, professora da Escola Indígena em Porto Real do Colégio/Alagoas, educadora sócio-cultural)
- Cristina Roseno (pós-graduada em Psicanálise no IBRA em SP, comunicadora da TV Tamuya/SP, pesquisadora do Núcleo de Estudos Autônomos sobre Racionalidades Médicas dos Povos Originários/NEARMEPOT)
- Isaías Marculino Guarapirá Potiguara (pajé potiguara da Paraíba/pai juremeiro e benzedor, graduado em Pedagogia, mestrando em Ciências das Religiões, professor de Língua Tupi no Ensino Básico)
- Yago Queiroz (indígena pertencente ao povo Fulni-ô e Kaingang, jornalista formado na Universidade Est.de Londrina UEL/PR, fotógrafo, videomaker, poeta, assessor de comunicação da ARPINSUL)
(*)Poema Erro de Português, Oswald de Andrade, 1924.
Imagem: Reprodução.